Conversamos com a Márcia Adriana da Silveira Pessoa (o Pessoa é do marido) do blog Casa de Doda. Ela nos concedeu esta linda e vasta entrevista "Morando e turistando em Manaus, Amazônia".Um pouco mais sobre Márcia
"Nasci em São Leopoldo, cidade do Vale do Rio dos Sinos, no RS. Como eu gosto de dizer, sou gaúcha, gremista, jornalista! Tenho especializações em Marketing, Gerenciamento de Projetos e finalizando Marketing Digital! Amo estudar, escrever, ler. Pego um livro e me esqueço de tudo em volta. Sou meio implicante e tenho algumas manias, que com o tempo estou me livrando como a mania de arrumação (hoje em dia estou muito mais tranquila, mas antes tinha que ser tudo no lugar!) Só não consigo perder a mania das listas! Lista de compras, lista das atividades da semana, lista de programação de posts ufa... E tome listas! Depois de trabalhar anos na iniciativa privada, me permiti ter dedicação ao blog (em Outubro o blog completa 5 Anos) e às minhas viagens. Depois de casada já morei em várias cidades, atualmente moro em Blumenau-SC, a terra da Oktoberfest. Um perfil de viagens?? Hummm... Já fiz de tudo, desde acampar, até resorts. Hoje eu preso pelo conforto, não necessariamente que precise ser caro. Gosto de lugares onde eu possa ter algum contato com a natureza, mas também adoro um asfalto! Será que posso me considerar uma viajante eclética?! Pode ser clichê, mas o que importa pra mim é ir. Mas com um mínimo de planejamento, claro. Afinal, sou a mulher das listas, lembra?!"
Quando e como Marcia chegou a Manaus
Minha primeira vez em Manaus foi em 1986 a passeio. Era o auge da Zona Franca e lembro que eu e meus pais saímos de lá, cada um com dois vídeos cassete, encomendas de amigos!!
Em 1998 eu trabalhava em Porto Alegre, como assessora de comunicação, mas queria algo diferente, só não sabia o que!! Morávamos eu, a mãe (que já estava viúva) e minha irmã com os filhos pequenos, ela estava divorciada. Foi quando surgiu a oportunidade dela se transferir para Manaus. Quando ela chegou com essa conversa em casa, foi tipo: "demorô"!! Todas achamos que seria bom. Por que não? O máximo que poderia acontecer era não nos adaptarmos e dai era só voltar! Ela foi na frente, por questões burocráticas e nós ficamos com as crianças, para encerrar o ano letivo e eu me desligar do trabalho. Então, no dia 23/12/1998, minha irmã nos aguardava no saguão do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, para o que eu chamo de "a maior aventura" que vivemos!!! Em menos de um mês eu já estava empregada e me adaptando às novidades. Afinal, nós meio que viramos o mapa do Brasil de cabeça para baixo! Cruzamos de Sul a Norte. Se eu faria tudo de novo? Com certeza.
No final fiquei por lá 12 anos. Meu marido é de lá e minha irmã e filhos ainda moram na cidade. Daí que todo ano nós voltamos, em diferentes épocas, como Natal, Ano Novo, férias de julho etc. Além da família e dos amigos, sempre tem algum motivo para voltar!!
Adaptações
No início não foi fácil. Existia uma certa dose de prevenção contra pessoas de fora. Por muitas vezes tive de ouvir que eu era "a sulista" que tinha ido me aventurar na Amazônia. Mas nada como um sorriso e uma boa conversa, para dissipar esses pensamentos dos locais! Até por que, eles são muito calorosos e receptivos. São do tipo que te convidam para a casa deles de verdade! E eu fiz muito amigos. Minhas melhores amigas são de Manaus. Costumo dizer que depois de tantos anos fora do Rio Grande do Sul, minhas referências são mais de Manaus do que do próprio Rio Grande do Sul!
Os costumes são totalmente diferentes, lógico. Mas a gente se adapta! Mas uma coisa me fez rir muito! No Rio Grande do Sul o "pão francês" chamamos de "cacetinho", e não me pergunte por que! E dai eu cheguei toda faceira numa padaria para pedir pão e falei pro moço: 'Eu quero 5 cacetinhos'. Ele me olhou e disse: 'Aqui não tem isso não'. Eu respondi: 'Como não? Estou vendo ele ali na cesta'. Dai ele fez uma careta e disse: 'Ah você quer pão d´água!'. Mas ele me olhou tão feio, como se eu tivesse dito um palavrão!!! Depois toda vez que ia na padaria ele ficava me olhando e rindo!!
Comida... Well! O que dizer? A comida é maravilhosa. Mas antes, claro, rolou aquela coisa de 'ahhh eu nunca que vou comer esses peixes, açaí, xis caboquinho, tapioca...'. Pra te resumir: eu amo tambaqui, pirarucu, açaí original, tapioca, matrinxã, suco de taperebá, xis caboquinho, baião de dois, farofa de banana pacovan com castanha! Tanto que, toda vez que vamos para lá, voltamos com um isopor lotado de tudo isso e quando alguém de lá vem nos visitar, o pedágio é trazer coisinhas também!!! Imagina uma gaúcha ficar sem uma bela banda de tambaqui para assar na brasa ahahahah... Calma, pois continuo amando churrasco e chimarrão!
Turistando na cidade que se mora
Alguns me perguntam: Qual a melhor época para visitar Manaus? ... Gente, pergunta capciosa essa viu?!!
Manaus tem um clima bem definido que é o CALOR !! Essa semana por exemplo, minha irmã disse que está quente de lascar (hoje é 29/05/2017) e que os jornais estão falando em um verão fora de série por lá. Uiiii! O verão amazônico vai de meados de Maio até meados de Novembro. Dai entre Novembro e início de Maio, é a época das chuvas. Mas não estou falando de chuvinha, estou falando de chuvarada!! Por isso quando me perguntam quando ir pra lá eu respondo que vai da preferência de cada um. Se não se importar com calorão, vai por agora! Ou se não se importar com chuva, o que ameniza um pouco o calor, vai mais pro fim do ano. Os passeios tu vais poder fazer em qualquer época, isso é certo! E não esqueça de levar na mala: bermudas, blusinhas leves, chinelos, sandálias confortáveis e arejadas, ou tênis. Se for na época das chuvas, leve um casaquinho leve, mas leve mesmo. E uma capa de chuva. Chegando lá, compre repelente e esteja sempre com uma garrafinha de água.
Agora, os lugares que eu gosto!!!
Na primeira vez em Manaus, em 1986, lembro que fiquei maravilhada com o Rio Negro. O tempo passou, lá fui eu de novo para o Amazonas. E quando o comandante avisou que estávamos chegando, da janelinha do avião pude vê-lo, em toda sua plenitude. Aquela imensidão de água, aquele rio que parece um mar, com todos os seus encantos e mistérios. Não me canso de observá-lo. Tive o privilégio de tê-lo todos os dias na minha janela! Ao levantar os olhos na minha sala, no escritório, a paisagem que tinha era do Rio Negro. Lindo! No porto do CEASA ou na Manaus Moderna é possível contratar passeios pelo rio. São muitos os barcos, mas fique sempre atento àqueles que têm licença da Capitania dos Portos, que tem salva vidas e botes. Afinal, um passeio tem que ser bem seguro, né?
Encontro das Águas... Vocês não têm ideia de como é linda essa manifestação da natureza. E ela está aqui, no Brasil. Infelizmente viajar para Manaus não é lá um dos passeios mais baratos que existe, mas se tiver oportunidade, vá! A primeira vez que eu vi o Encontro das Águas foi outra coisa que me deixou de boca aberta. E poder chegar ali, bem onde os rios correm lado a lado e poder molhar as mãos é indescritível. Ah e não esqueça de jogar uma moeda e fazer 1 pedido. Eu fiz vários e muitos se realizaram. Só não sei se foi por causa da moeda ou se tinha que acontecer mesmo! Vai saber né?!!
Outra paisagem maravilhosa são as Anavilhanas, que é um Arquipélago com mais de 400 pequenas ilhas. O legal é fazer um passeio aéreo, pois só assim é possível ver a dimensão do que é. No Aeroclube do Amazonas, no bairro de Flores, todos os aviões têm licença e muitos oferecem esse passeio.
Fazer uma trilha na selva também é muito legal. Eu fiz algumas, mas com amigos professores da Universidade. Eles iam colher material para seus estudos e eu ia junto!! Mas eu sei que a Tucunaré Turismo oferece vários passeios como esse.
Se não conseguir fazer uma trilha, visite o Zoológico do CIGS. O Centro de Instrução de Guerra na Selva, do Exército, possui um zoo com vários exemplares da fauna amazônica. Em sua maioria espécies que foram resgatadas e que hoje estão sob os cuidados deles. Vocês poderão ver a onça pintada, várias sucuris (M E D O O O O !!!), entre outros animais lindos. Além de visitar o INPA -Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, e poder ver de pertinho o Peixe Boi. Aquela lindeza calma e meiga, que corre o risco de ser extinta por conta da insensatez humana. Mas isso é assunto para outra conversa.
Saindo do "segmento" natureza, o Teatro Amazonas é visita mais do que obrigatória. Poder admirá-lo é algo sem igual. Faça a visita guiada, pois nela vocês ficam sabendo todos os detalhes de como era a vida dos barões da borracha, de seus hábitos e de suas extravagâncias, como mandar lavar as roupas em Paris, por exemplo!! E já que estará ali no Largo de São Sebastião, aproveite para visitar a Igreja de São Sebastião, o Palacete Provincial e outros pontos turísticos do Centro Histórico. Ah e o Mercado Público Adolpho Lisboa, claro! Para estar perto das cores, sabores e aromas da Amazônia. Procurem saber sobre a "Hora da Creolina", que faz parte da história do local. No Mercado também é possível comprar artesanato.
Sobre lugares onde comer, vou elencar os meus lugares, os que eu sempre frequento e que já indiquei para muitas pessoas. Nenhuma delas reclamou até hoje. Não sei se porque realmente gostaram ou, se por delicadeza, acharam melhor não falar nada hahahahaha
- Tambaqui de Banda - tem uma unidade desse restaurante no Largo de São Sebastião
- Tacacá da Gisela - também no largo (eu não tomo tacacá. Já provei e não gostei, mas acho que vale a experiência, nem que seja para dizer: NÃO GOSTEI!!)
- Bar do Armando - no Largo. Para beber uma cerveja gelada, comer um sanduíche de pernil e ficar sentado nas cadeiras na calçada, jogando conversa fora!
- Atelier Talita Avelino - Rua Recife, 1506 - Adrianópolis. É uma confeitaria onde ela faz muitos doces com sabores da terra, como o açaí e o cupuaçú, entre outros.
- WakuSese - Rua Rio Purus, 260 - Vieiralves. A melhor tigela de açaí ever!! Lá também se come o Xis Caboquinho (queijo qualho com tucumã, no pão francês - ou cacetinho!!).
- Banzeiro - Rua Libertador, 102 - Nossa Senhora das Graças. O restaurante, do Chef Felipe Schedler, mostra a culinária local com um toque de glamour. O preço é de médio a caro, mas eu recomendo, pois os sabores são ótimos.
- Café Regional Tapiri - Rua Jacira Reis, 650 - É o "café colonial" amazônico!!! Lá tu vais comer de tudo um pouco e muito mais, provando assim, os sabores da terra!
- Restaurante do Jokka Loureiro - Beco Darci Azambuja, 1 - São Raimundo. Sabe aqueles lugares que começam nos fundos de uma casa, caem no gosto popular e todo mundo quer ir lá?? Assim é o Jokka! Acho que ele tem o melhor baião de dois de Manaus, assim como a sardinha frita, o matrinxã, tambaqui, tucunaré etc... Ele é figura folclórica na cidade, por que é do tipo que "expulsa" os fregueses quando o relógio bate as duas da tarde! Mesmo assim ou talvez por isso, o lugar está sempre cheio. Possui a vista que o Jokka diz ser a vista mais linda parado Rio Negro. Eu concordo!
Eu citei alguns dos lugares que adoro em Manaus, tanto de passeios, como onde comer, mas não são os únicos. Nossa, tem muitos outros, eu elenquei apenas alguns. Por isso minha sugestão é que tua estadia seja de no mínimo, CINCO DIAS! Que dai é possível conhecer quase tudo! 🙂
Outra dica é me avisar quando estiver indo para lá, se calhar de ser na mesma época que eu, podemos marcar pra eu levá-los a esses e outros locais. O que acham?!!!
Como viver em Manaus mudou a Márcia
Mudou tudo!! Sempre me considerei cabeça aberta e destemida. Mas tomar a decisão de mudar de casa, sendo esta casa em uma outra região, outro estado, outra cidade, deixar tudo para trás e começar do zero, foi uma tremenda aventura, solidificando-se em um projeto de vida. Eu me tornei mais resiliente. Eu entendi que eu poderia realizar muitas coisas e que, ter me mudado fisicamente, acabou por me mudar psicológica e espiritualmente. Eu cresci como pessoa e tenho uma gratidão muito grande por Manaus e por todas as pessoas que cruzaram meu caminho... (nesse momento me caiu uma lágrima aqui, mas acho que é só um "cisco" no olho!!!).
Baita entrevista inspiradora, divertida e cheia de sentimento! Agradeço imensamente esta entrevista riquíssima de detalhes, Márcia! Adorei te conhecer!
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