MADRID por Marcio Cardoso - Nosso entrevistado é um jovem "há mais tempo", nascido em Florianópolis (classificado como um “manezinho” segundo a cultura local de Floripa) hoje com 49 anos. Começou a viajar devido a um sonho onde dizia "que iria conhecer a Europa”. E foi assim que ele parou o curso de engenharia e partiu para o sonho tão desejado com 23 anos em 1992. Entre idas e vindas à Europa, em 2006 acabou indo a Madrid e hoje coleciona várias idas e vindas a esta cidade e arredores.
Um pouco mais sobre Marcio
Na primeira vez que fui à Europa, morei em Portugal em duas cidadezinhas, Póvoa de Varzim e Vila do Conde. Como sou percussionista, este foi meu destino porque eu tinha um amigo que tocava comigo e que morava nesta região. Realizei shows em barzinhos no estilo Wando e Roberto Carlos. Trabalhei como garçon em bares, atendente em uma padaria e barman numa discoteca a beira da praia. A saudade era imensa do Brasil e naquela época não existia celular, whatsapp e skype. Voltando ao Brasil, concluí meu curso de Engenharia Sanitária e Ambiental e neste curto período me formei também em História. Após este período acadêmico, comecei a fazer parte de uma ONG - Instituto Autopoiésis Brasilis trabalhando com a questão ambiental (2001-2016).
Desde aquela viagem, me aventurei pelo Brasil e América Latina, pratiquei montanhismo, participei como pesquisador do Programa Antártico Brasileiro que me levou ao Continente Antártico (2008 e 2010), conheci do norte ao sul do Chile. Hoje as minhas viagens necessitam de um olhar mais cuidadoso pela família, afinal esposa não dorme em pé e filho de 4 anos já corre muito. Este ano, estava como professor no IFSC, Florianópolis, e incentivava meus alunos a viajarem, mesmo os que achavam que não tinham condições financeiras. Nos momentos de descontração dizia a eles, “peçam bolsas de estudos e se ganharem, decidam depois se vão ou não, mas peçam”.
Como começou
A vontade de ir para Madrid começou quando estava em um grupo de pesquisa na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Eu havia acabado meu Mestrado na Engenharia Ambiental e atuava em alguns projetos na área. Conversava com meu orientador sobre seus estudos na Espanha (datados da década de 1970), e ele me indicou um curso em “Madrid”. Confesso que a Espanha sempre habitou meu imaginário, com toda aquela música flamenca, cigana e cultura moura. Desta forma, acessei na web as informações sobre o curso, fiz a inscrição e de quebra pedi uma bolsa de estudo para o governo Espanhol. Aconteceu, como falo aos meus amigos, o imprevisível!
"Isso só acontece com outras pessoas", é o que sempre ouvimos, mas aconteceu comigo. Obtive a bolsa de estudos para fazer o Master com passagem aérea e seguro médico. Lá estava eu pronto a conhecer Madrid, retornando à Espanha, cheio de sonhos e planos, após 14 anos, pois já havia morado em Portugal e visitado a Galiza, norte da Espanha. Ah! Alguns colegas também conseguiram a bolsa para o curso - dois da área ambiental e um da área das artes. Acreditaram, pediram e conseguiram. Vamos lá, vocês também conseguem!!!
Nesta oportunidade de estudos em Madrid morei aproximadamente seis meses no ano de 2006 e neste período, concluí meu Master em Hidrologia. Havia em minha classe estudantes latino-americanos da Argentina, Chile, Equador, Bolívia, Colômbia, República Dominicana e espanhóis de Madri, Toledo e Cidade Real (Região de Castilla - La Mancha) e, também, Logroño (Região de La Rioja).
Após essa experiência, meu domínio na língua espanhola aumentou. Retornei a Madri em 2008, 2012, 2016 e estou com passagens compradas para junho de 2017. Em 2008, retornei sozinho para apresentar um trabalho em Cartagena (Região da Múrcia). Como historiador, Cartagena é um prato cheio da influência romana, aliás, a península ibérica inteira é forjada pela cultura romana, principalmente a mediterrânea o que inclui as culturas árabe, cristã e judia, até a queda do último reduto Mouro, em Granada, bem retratada no filme “1492- a Descoberta do Paraíso”, dirigido por Ridlet Scott. Cartagena também remonta aos filmes de piratas e sua influência no comércio do mediterrâneo em séculos passados foi notável. No ano de 2012, convidei minha irmã Maria Claudia e viajamos por Madrid e arredores, além de visitarmos outras cidades européias. Recentemente, julho-agosto 2016, após uma viagem pela Europa com um amigo Lucas, professor do IFSC, também retornei a Madrid.
Check list de viajante
Ir para a Espanha não requer visto a brasileiros, mas um dos pontos importantes para se atentar é estar com a passagem emitida de ida e volta e certa quantia de Euros ou de outra moeda (dólar) em posse. Estes dois pontos entendo serem importantes, porque sempre pode haver um imprevisto na entrada para a Espanha (que é uma rota de entrada de pessoas que querem viver por lá e isso não é permitido legalmente).
Aconselho contratar sempre um seguro médico antes de ir, é um investimento que pode ajudar em imprevistos caso você adoeça por lá. Já para pequenos incidentes, fiz uma pequena lista de remédios: dores musculares (Madrid e as cidades do seu entorno são cheias de altos e baixos e caminhar é fundamental por lá e como fiquei um período maior em 2006, senti muito a musculatura das pernas, mesmo com um bom tênis), gastrointestinais (comidas diferentes), remédio para gripe e resfriados, pastilhas principalmente (mudança de temperatura, período de frio entre os meses de Outubro a Abril ou Maio aproximadamente), paracetamol e até alguns band-aid. No período de verão, nos meses de julho-agosto principalmente, protetor de sol é fundamental, o famoso boné e roupas leves.
Madrid é quente e árida e beber água é essencial, coisa que os madrileños fazem todas as horas, principalmente, nas refeições. Sobre os check up médico, o que inclui o dentista, sempre é aconselhável pelo menos de 6 meses em 6 meses ou anual, prevenindo incômodos em sua viagem.
Uma ideia para incrementar sua viagem é ler sobre a história local das cidades que irá visitar. Às vezes você está passando por um lugar em que fatos importantes aconteceram e você só descobre depois.
O planejamento financeiro tem que ser cuidadoso, pois geralmente o euro está de 3,5 a 4 vezes o valor do Real. Nas estadas, fiquei em hostel e hotel. Minhas dicas para quem é jovem: o Cat’s Hostel (Endereço: Calle Cañizares, 6) e o Mad Hostel (Endereço: Calle de la Cabeza, 24). O valor varia de €16,50-€70 (conforme a quantidade de beliches no quarto) e você tem que fazer a reserva antes, com taxas no valor de €2 a €4, e caso fizer uma reserva de 7 dias o valor baixa. Os hostels tem um café da manhã com cereais e leite (dá para aguentar até o almoço) e como o Cat's e o Mad ficam a 60 metros de distância um do outro, você pode curtir os encontros de jovens do mundo todo. No período de férias na Europa (Julho e Agosto) você tem que ser rápido na reserva, pois há um aumento na circulação dos jovens Europeus.
Hotel eu sugiro aqueles que ficam perto das Plaza Puerta del Sol, Plaza de Santa Ana ou da Plaza Canalejas, aproveitando que estas praças formam um triângulo onde ficam as melhores opções para as noites em Madrid. Muitos bares, pubs, restaurantes, e ao caminhar você se encantará com as fachadas de azulejos coloridos. Nesta região do centro histórico, indico o “Hotel II Castillas” (Endereço: Calle de La Abada, 7). O valor fica em torno de €100-€120. O café é muito bom já que inclui jamones e outras coisas locais. Você, nesta região, não precisará de metrô à noite (este funciona das 6h até 1h30min).
Madrid com dicas
Madrid é uma cidade de aproximadamente 3 milhões de habitantes, já a 'grande Madrid' contando as cidades do seu entorno, chega a 5 milhões. Dizem que quando você tem uma boa experiência em um lugar, ele te elege pra sempre. Pois bem. Aconteceu comigo em Madrid. Ela é uma cidade onde você respira. Digo isso, porque passei a maior parte de meu tempo perto do centro histórico que é formado por edificações baixas, de uns três andares apenas, o que proporciona leveza.
Outro ponto que me conquistou foram os detalhes na infraestrutura da cidade: repare nos acabamentos das calçadas, muros e fachadas feitos com uma enorme competência. Esse olhar vem de minha formação como Engenheiro Ambiental e, digo que temos que aprender com os Espanhóis onde as arquiteturas antigas complementam as novas. Para mim, a melhor parte de Madrid está no caminhar, olhar e sentir o ar Espanhol, além dos sabores das tapas madrileñas. Em vários pontos do centro histórico, você pode pedir “una caña” que é a cerveja de máquina e ela vem acompanhada com pratinhos de pães e embutidos (€1,20). Para completar peça uma “porción del jamón" (€3).
Comida: Procure pelas paellas de frutos do mar (a valenciana é com frango e a negra é com tinta de polvo) do Mercado San Miguel (€4,50 - €7), onde você pode experimentar também as variedades de tapas, vinhos, sucos, cones com embutidos, doces e, em especial, o sorvete. Lá percebemos que há uma estética na gastronomia espanhola, rica em frutos do mar.
Se você optar por restaurantes, encontrará uma variedade enorme. Geralmente há uma entrada com pães, água abundante, um primeiro prato (sopas ou saladas), um segundo prato (carnes ou peixes) e a sobremesa (postre). É claro que esta combinação depende do período em que você for, e o vinho (Ribeira Del Duero, La Rioja, La Mancha) é completude nesta gastronomia.
Portunhol: Em todos os momentos você terá que exercitar seu portunhol ou espanhol, afinal como dizia o velho guerreiro, “Quem não se comunica se trumbica”. Mas lá vai você tomar um café pela manhã na mercearia na frente de seu hotel ou hostel e chegando lá, não estranhe a ênfase na voz do atendente (berraceira cantante). Quando vivi em Portugal, mesmo vindo de família portuguesa, estranhei a “rudeza” que num primeiro momento até achei grosseira, mas depois notei que era questão da cultura portuguesa e que ficava difícil julgar com minha experiência brasileira; mas depois acostumei. Anos depois, em Madrid e tantas outras cidades, deparo com algo semelhante, então sugiro você cuidar do coração com o susto que levará e encarar com um berro comedido, se é que existe isso: “Una Taaapaa” ou “Un café por favor”, com ênfase, viu!? Aí a mercadoria chega no seu canto do balcão.
Passagens aéreas: Do Brasil até a Espanha, pelo o que pesquisei ao longo dos anos, a passagem sempre é mais atrativa em relação ao preço e aos horários quando se pousa nesta cidade. Chegando lá no Aeroporto de Barajas não fique perdido, tenha calma. Há informações para turista. Lá você pega um mapa da cidade e do metrô. Já separe, no avião, uns €30 só para garantir a compra dos bilhetes de metrô. Se você permanecer em Madrid mais de 5 ou 6 dias, sugiro a compra de 10 passagens (dica: o 1 ticket que vale 10 você deve pegá-lo de volta da máquina antes de passar da catraca). De táxi, até o centro histórico, deve estar em torno de uns €50.
Cuidado com os Punguistas: A primeira coisa de que você deve estar atento, é com seu passaporte e dinheiro. Eles devem sempre estar protegidos junto ao seu corpo. Costumo dizer que os punguistas por lá são mágicos. Se você tiver uma bolsa, mochila pequena ou mala, cuide porque eles vão abrir e roubar sem você perceber. Vi muita gente sendo roubada e só percebiam bem depois. Dizia pra mim mesmo: “não vão me roubar” e acabei pegando um jovem punguista no metrô de Barcelona com a mão no meu bolso ultra protegido. Se o rapaz levasse meu passaporte, a viagem teria uma dor de cabeça sem precedentes. Lá, que eu saiba, não há assaltos como aqui no Brasil, apenas esses “mágicos”.
O que percebi foi que, quando vivi em Madrid, em 2006, não havia pessoas dormindo na rua como em 2012 e, tantos imigrantes africanos como em 2016 (Bairro Lava Piés e La Latina, bairros que indico evitar durante a noite). Para as meninas, cuidado dobrado com abordagens inesperadas de outras nacionalidades. Nas estações de metrô mais movimentadas, por exemplo, não dê papo e caia fora, só por precaução.
Passeios imperdíveis em Madrid
A viagem à Madrid já vale a ida à Europa. Com 6 dias você pode sentir-se satisfeito e no lucro. Minha sugestão é que você também passe pelas cidades do entorno.
Sugiro que quando chegar ao centro histórico, vá até a Plaza Puerta Del Sol, que é conhecidíssima dos Espanhóis e dê uma caminhada de reconhecimento. Vá em direção a Plaza Mayor, seguindo o fluxo pela Calle Mayor, à direita de quem fica olhando de frente o relógio da praça (este trajeto é curto, tranquilo e cheio de turistas). Repare que abaixo do relógio tem o marco zero das carreteiras (estradas) da Espanha. À direita, você poderá ir até o Palácio Real de Madrid pela Calle Arenal.
Você chega a Plaza Mayor por uma de suas entradas (mas lógico, você pode ir até as outras portas para conhecer a infinidade de novidades, restaurantes, lojinhas e boa cerveja, principalmente se for verão por causa do clima). Mas seguindo numa direção reta, mantendo a direita desta primeira porta, você acompanha o corredor até a outra porta: passe por seu pequeno corredor antigo e a uns 20 metros, encontrará o Mercado San Miguel, que é a perdição gastronômica de Madrid. Neste ano, frequentei com mais assiduidade. Para quem entra pela porta central do mercado, na fachada maior, no box à esquerda, no fundo, ao lado de um box Japonês, há pratinhos de arroz com polvo e dentre outros por €4,50. Como tudo lá é meio caro, tem que manter a calma.
Desça pela porta lateral e pegue a Calle Cava de San Miguel até o Restaurante “Sobrino de El Botín”, um dos mais antigos da Europa e talvez do mundo. Inicialmente era chamada de Casa Botín, e era propriedade do francês Jean Botín e sua esposa, do ano de 1725. Depois deles, foi o sobrinho de Botín quem administrou a casa, e por isso este nome. A especialidade da casa é o Porco Assado (Leitão). Francisco Goya trabalhou lá antes de ser aceito na Academia Real de Belas Artes. Na literatura, encontramos referências desta casa nos livros “The Sun Also Rises” de Ernest Hemingway e "Fortunata y Jacinta" (1886-1887) de Benito Pérez Galdós.
Outro ponto que indico é o Palácio Real e ao lado, a Catedral de Santa María La Real de La Almudena, isso tomando o caminho da Calle Arenal a partir da Plaza Puerta Del Sol. Se puder assista uma missa em espanhol, eu curti a parada!
Siga até uma parte mais alta para ver os jardins do palácio. Madrid foi uma cidade amuralhada e os restos destas muralhas aparecem ao lado esquerdo desta Catedral. Vale a pena ir até o Parque Rio-Madrid, onde eles simplesmente direcionaram e represaram o Rio Manzanares colocando a rodovia no subterrâneo e criaram sobre ela um parque com ciclovias, espaços infantis, etc. Aliás, Madrid é um show de espaços públicos.
Ao lado oposto na estação Sevilla, siga pela Calle Alcalá e alcance a Plaza Cibeles. Se você continuar na Calle Alcalá, você passará por uma das três portas da cidade de Madrid , a “Porta de Alcalá”; e em seguida, o Parque do Retiro. Este parque é uma boa pedida para caminhar e relaxar. Nele há um monumento projetado por Velasquez com uns leões na frente, e em outro ponto, o Palácio de Cristal. Depois é só curtir o final da tarde de Madrid. Os espanhóis utilizam muito bem seus espaços públicos e todos os domingos acontecem os piqueniques, teatro e música. Se ainda o gás não acabou, arrisque uma remada de barquinho do lago artificial.
À noite você tem a opção de descobrir naquele triângulo de Plazas, as noites boêmias de bares. Costumo indicar a Calle Gran Vía e a Calle Alcalá para uma boa caminhada noturna. Mas também tem o Passeo Del Prado, Passeo Recoletos e Passeo da Castellana, que são grandes calçamentos ideais também para andar de bike. Então, dos 6 dias que recomendei você ficar na cidade, tirando o dia da chegada, 3 dias separe para conhecer as cidades em torno de Madrid e o restante do tempo, você pode se dedicar à Madrid.
A dica é programar o domingo para ficar em Madrid porque há algumas programações diferentes como o El Rastro, uma feira de rua que vai até a outra porta de Madrid - Porta de Toledo. Lá você pode comprar uma bugiganga ou um lenço indiano feito na China, que não ocupa espaço, pra sua mãe ou namorada (€2).
Outra indicação é o Museo Reina Sofia. Você vai precisar de 1h a 1h30 dentro dele e deliciar-se com Juan Miró e Salvador Dalí e a impressionante obra de Pablo Picasso “La Guernica”. Leia sobre esta obra antes de ir ao museu. Ela voltou à Espanha a pedido do próprio Picasso, já que, antes de morrer, solicitou que ela ficasse disponível ao povo espanhol. Suponho que para que o povo nunca esquecesse o que ela representa para a história daquele país. Vá também ao Museo del Jamón, que é um museu popular e ideal para um pit stop e "una tapaaa".
Mais dois museus que valem muito a pena: o Museo de Arte Thyssen-Bornemisza (€8 estudantes e €12 adultos) onde você encontrará muitas obras de vários artistas, o que inclui Matisse, Monet, Manet e Van Gogh. E depois, o Museo Del Prado... aí é uma overdose de artistas como Velasquez, (Las Meninas) Tintoreto (Auto Retrato), Rubem, Veronese, El Bosco (Jardim de las Delícias), Raphael, Zurbarán, Tiziano, Goya (La Maja Desnuda e La Maja Vestida), Ribera, Rembrandt e Van Der Weyden.
Finalizando, visite a Serra de Guadarrama (~70km) que é um ótimo ponto para ver a neve.
Passeios rápidos em cidades próximas
Vá até a Estação Atocha Renfe para adquirir as passagens de trem (Cercanías) para as cidades próximas de Madrid. As cidades de Segóvia e Ávila são um pouco mais distantes e dá para curtir o visual pela janela do trem. Toledo é mais próxima e San Lorenço de El Escorial você chega muito rápido. Há outras cidades próximas como Alcalá de Henares (conheça o El Museo Casa Natal de Cervantes, onde Miguel de Cervantes escreveu o livro: "Don Quixote de La Mancha") e Guadalaraja.
Você tem duas opções de estações de Trem, as quais você pode chegar a partir do Metrô: Atocha Renfe (linha azul) e a Estação de Pinar de Chamartín (final da linha azul). A compra antecipada garante sua ida no dia seguinte, principalmente no período de férias Europeu. Saia cedo de Madrid para poder curtir tranquilamente estas cidades e retornar à capital para aproveitar mais uma vez o Mercado San Miguel ou o Museo del Jamón (Dica: não esqueça da "la siesta" onde tudo fecha às 13h e só retorna ao trabalho às 16h).
Chegando nestas cidades, siga até a informação turística e pegue o mapa local. Lá estarão numerados os locais a conhecer. Tênis macio e pernas avante, e deixe pra descansar depois no trem. Para os que querem economizar, prepare uma mochila com uma garrafa de água, sanduíche e chocolate. Do trem há uma vista maravilhosa da paisagem, montanhas com geleiras eternas, pequenos castelos, mosteiros, cidadezinhas e muitas vinhas no solo árido. Tudo é realmente diferente de nosso ambiente. Programe pelo menos um dia para cada cidade.
Dentre as cidades que indico, sugiro descobrir Toledo (cidade da cutelaria), Ávila (cidade amuralhada e não deixe de provar o doce – Yemas de Ávila) e Segóvia, (um castelo medieval dos mais completos da Europa). Já em San Lorenço de El Escorial há uma mosteiro enorme onde se encontram as catacumbas dos reis, rainhas e infantes(as) da Espanha.
O Valle de Los Caídos é um memorial aos espanhóis mortos no período fascista de Franco. Neste local, encontra-se o mausoléu dele, numa montanha. Sinistro.
De Madrid (estação Atocha Renfe) à Segóvia você leva 2h, de Ávila, 1h30min, de Toledo 30min, e de El Escorial, 1h (www.renfe.com). Os preços estão em torno de €10-€20. Após a crise, as passagens aumentaram.
Depois de tantas idas e vindas e uma futura ida, o que mudou pro Marcio?
Acho que meu espírito é cigano. Não consigo ficar muito tempo parado e acredito que por isso não deixei o bonde passar e sim, subi nele. Quando caminhamos por novos espaços, é inevitável a sensação de descortinar o novo, na cultura local, no olhar das pessoas, nas amizades imprevisíveis, na gastronomia, nas paisagens dos mares e montanhas e, é claro, na história local. Parece que a Torre Eiffel ou a Torre de Pisa saem dos livros e fazem parte de você.
Depois da primeira viagem, na volta já rola um pensamento como será a próxima. Ainda bem que o mundo é grande. Comecei cedo nas viagens, indo a Portugal e lá aprendi a olhar meu país de outro ângulo, a partir das informações que chegavam. Isso mudou minha ótica em relação ao Brasil e ao mundo. Acho que isso foi uma das coisas mais importantes que aprendi, e assim, amar meu país, suas diversidade e sociabilidade, seu patrimônio ambiental e cultural. Nesta construção, continuo otimista sempre, porque cada país possui suas qualidades e problemas e não estamos de fora.
Se há um lugar onde recebem você bem é o Brasil, seja lá de onde você é. Somos assim, temos abertura com outros povos sem distinções. Como vivi na Espanha, vou comentar uma cena a que assisti em Sevilla: parti de Madrid, à noite, de ônibus em direção à Sevilha, na semana de Páscoa. Ir à páscoa em Sevillha é retornar à idade média e as festividades por lá rolavam 24 horas. Havia confrarias com 200, 300 ou mais pessoas que saiam de pontos diversos da cidade com roteiros pré determinados seguindo uma imagem de Nossa Senhora e artefatos de ouro. Em procissão, parava na calle, um silêncio tomava a multidão que também assistia e, ainda à noite, escutava-se o breve sussurrar de uma oração, era como se eu tivesse voltado ao passado, era de arrepiar. E lá vinha outra confraria, cores azuis, preta, branca, cruzes, velas, aqueles chapéus cônicos era recorrente. No fim da tarde, aconteceu uma cena impressionante onde um cigano enfrentou uma destas confrarias e colocou-se de frente da imagem de Nossa Senhora e entoou um canto de lamento com aquela voz única de influência moura. Nossa, fiquei emocionado só de recordar dessa passagem.
Mais tarde fui entender que os ciganos recorrem à Nossa Senhora, já que são um povo sem território e perseguidos na história da humanidade. Outro elemento são as artes que exprimem uma linguagem maravilhosa para construção do saber de cada um. Eu vivia no Museo do Prado e no Reina Sofia, quase virei sócio. Foi uma grande oportunidade, uma escola. Imagino um dia viabilizar nas escolas do Brasil, algum projeto que contemple estas obras. Quem sabe cópias itinerantes. Sonhar, pode, pessoal!
Hoje vislumbro mudar a estética do mundo, de minha cidade, da minha rua e da minha casa que já comecei. Quanto mais você viaja, mais olhares habitam você, mas leveza e mais vontade de conhecer.
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