Dicas para visitar o PETAR - Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira incluindo descrições de passeios, além de restaurantes, hospedagem dicas de como ir e vir e muito mais!
Eu não sou lá muito de turismo aventura, de me sujar de barro e correr o risco de cair num abismo direto pra morte. Nunca me vi explorando o mato, sendo picada por insetos e ficar molhada por água que não fosse do chuveiro. A Gisela já foi pro PETAR há muito tempo atrás e ela me chamou para ir. Lembro que não quis ir por alguns motivos como incompatibilidade de agenda e esta minha "não vontade" de me sentir primitiva descrita no início.
Mas acho que quanto mais velha a gente vai ficando, acabamos abrindo mais o escopo das coisas e quebramos paradigmas que achávamos que nunca iríamos quebrar.
O incentivador desta vez foi o namorado da época que me deixou empolgada a explorar o PETAR. Acabei pesquisando um pouco sobre quase tudo e perguntando a algumas pessoas que já foram pra lá. Também chequei que após o dia 05 de Janeiro, o fluxo turístico diminuía em relação a Dezembro (quase fomos em Dezembro de 2016). Queríamos praticamente fazer os passeios de forma particular, porque queríamos explorar o local de uma forma diferente, mais demorada e focada em muita, mas muita fotografia. Levamos tripé e ficamos muito tempo em alguns pontos específicos, o que poderia enfurecer turistas que poderiam estar conosco. Então, chegamos dia 17 de Janeiro à noite e voltamos dia 20, sexta.
O PETAR possui 4 Núcleos de exploração: O Núcleo Caboclos e o Núcleo Casa de Pedra fazem parte da cidade de Apiaí que fica a uns 62km de distância das pousadas. Já o Núcleo Ouro Grosso e Núcleo Santana ficam mais próximos das pousadas.
No Núcleo Caboclos você tem a Trilha da Caverna Termimina (que nós fizemos) de 9.050m de caminhada total com exploração da caverna, considerada uma trilha de dificuldade média para quem já tem condicionamento físico. Há ainda a Trilha do Chapéu (é fácil, com 800m) que deve englobar a exploração da caverna do Chapéu, das Aranhas e as cavernas Chapéu Mirim I e II. Há ainda a Trilha Continuum Trecho 2 (considerada nível alto de dificuldade para quem tem condicionamento físico e é necessário acampar, já que ela possui 22.830m). Verifique se há alguma cachoeira, porque eu não tenho certeza. Há opções de camping.
No Núcleo Casa de Pedra você tem um centro histórico para visitar além de cachoeira. A Trilha é a Portal Casa de Pedra com exploração da caverna Casa de Pedra, com 6.600m (considerada nível médio de dificuldade para quem tem condicionamento físico).
No Núcleo Santana você tem a Trilha do Betari (7.200m considerada nível médio para quem tem condicionamento físico) com exploração de cavernas, rios e cachoeiras. A Trilha Morro Preto + Couto é bem leve, com 300m apenas. A trilha Caverna Santana é leve também com 85m. A Trilha mais hard é a Continuum Trecho 1 com 24.400m (necessário acampar e é considerada nível alto de dificuldade para quem já tem condicionamento físico). Há as Cachoeiras do Beija-Flor, das Andorinhas. Outras cavernas a serem exploradas são: Água Suja, Torre de Pedra e Cafezal.
No Núcleo Ouro Grosso você encontra a Trilha das Figueiras (trilha leve de 390m) com museu de cultura tradicional, e há opções de turismo aquático com passeios de bóias alugadas, por exemplo.
Dicas Básicas para conhecer o PETAR
De São Paulo a Iporanga
Saindo de São Paulo numa terça-feira às 15h, chegamos na cidade onde ficam as pousadas pro PETAR às 22h30. Motivos: pegamos a BR116 e a Serra do Cafezal (do km 42 ao km 64) estava com um trânsito beeeem grande. Foi muito frustrante, estávamos torcendo para isso não acontecer, mas... a probabilidade de pegar trânsito é sempre grande. Este trânsito nos fez perder 2 horas do previsto de chegada na pousada.
Depois que você sai da BR116 e vira em direção à cidade de Eldorado, a estrada fica muito esburacada e ruim. Muito ruim mesmo! Aí não dá pra pisar no acelerador do carro e correr o risco de ficar na beira da estrada e no meio do nada.
Aí você finalmente chega em Iporanga e ainda tem mais uns 13km pela frente de estrada de pedrinhas, o que te faz ainda dirigir devagar.
O pessoal nos disse que o turismo ocorre muito em épocas de férias (Julho e Dezembro) e feriados prolongados. Durante a semana a coisa fica mais tranquila. Geralmente nos finais de semana sempre tem procura pelos passeios e hospedagem.
A dica aqui é ficar hospedado bem aos pés do PETAR. Então, procure as hospedagens do Bairro Serra da cidade de Iporanga. É muito sensato ficar por lá porque os passeios ocorrem bem cedinho. Dependendo da época que você vai, pode não encontrar hospedagem com vaga. Então se programe. Eu liguei para algumas pousadas no dia 16 de Janeiro procurando hospedagem a partir do dia 17 e algumas estavam fechadas (porque era baixa temporada). Por sorte nos indicaram a Pousada do Abilio que é muuuuito simples mas nos atendeu muuuito bem. Para mais detalhes sobre as pousadas, leia no final da página.
Também é necessário se programar com antecedência. Os passeios do PETAR que ficam na parte de Iporanga ocorrem a partir das 08h e terminam lá pelas 17h. Já os passeios mais distantes (da cidade de Apiaí), saem às 06h30 com retorno às pousadas lá pelas 18h30 (porque o trajeto é cerca de 2h de carro cada trecho). Há várias empresas que operam no PETAR. Você só pode explorar a região com um condutor autorizado, e nem adianta inventar de ir lá na raça. Nós fechamos os passeios com o Parque Aventuras e sempre fomos bem atendidos, desde as respostas via email quanto pessoalmente. Geralmente eles trabalham com um sinal de 20% e se você pagar o restante à vista, rola um desconto de 5%
A entrada para cada Núcleo custa cerca de R$12 + R$6 por veículo. O pagamento deve ser feito apenas em dinheiro (reais). Os parques abrem às 09h e fecham aproximadamente às 17h. Mas no nosso caso, a entrada fazia parte dos nossos passeios com a Parque Aventuras, então era o guia quem pagava as entradas.
Vá de tênis adequado e que seja ANTIDERRAPANTE. Fique ciente que o tênis vai sujar e molhar muito.
Não vá com roupas claras e nem ligue para o sexy appel... não rola lá... O lugar é pra você se sujar, se molhar e não pra sensualizar. O negócio é camiseta de manga, calça escura pra te proteger, meia comprida sobre a calça pros bichos não comerem seu tornozelo e cabelo preso.
Leve água porque quando fica quente, fica quente de verdade e quase não há bicas de água para se refrescar.
Leve lanche. O guia não pode dividir o lanche dele, então, se responsabilize pelo seu. Há mercados no Bairro Serra para você providenciar o lanche. Para quem vai para Apiaí nos circuitos mais distantes, a única parada para abastecer o carro e comprar mantimentos é no centro de Apiaí.
Se quiser tomar banho de cachoeira, veja se sua trilha possui paradas em cachoeiras e não esqueça de ir com roupa de banho por baixo da sua roupa.
Repelente bom não pode faltar!
Para quem quer fotografar, leve ao menos duas lanternas de boa qualidade e alcance!
Deve ser padrão o que as empresas dos passeios disponibilizam: capacete com lanterna, seguro de vida e perneiras para as trilhas mais "hards". Algumas empresas alugam lanternas mas pra gente eles emprestaram luzes (não eram lanternas) para ajudar a realizar as fotografias. Se você tiver o seu equipamento, leve-o, porque é mega útil. Achei super legal eles terem nos emprestados as luzes.
Quem disse que pessoas com restrições de mobilidade não podem ir? Para as cavernas mais densas que fomos no primeiro dia (Santana, Couto e Morro Preto) os condutores são treinados a levar pessoas com restrições de mobilidade. Nem que eles tenham que carregar a pessoa nas costas, eles levam.
Estrangeiros: apesar de não existir (ainda) guias bilíngues, saibam que não é impossível fazer a exploração! Eles são super esforçados e algumas frases serão impressas antecipadamente com todas as informações de segurança e detalhes sobre os locais.
dica de viagem e do que fazer no petar parque estadual turístico do alto ribeira
Núcleo Santana: Caverna de Santana
O primeiro dia era tudo novidade. Esta era a primeira caverna a ser explorada (mas não a primeira da minha vida) e não sabíamos direito o que nos esperava. Resolvi nem ver muitas fotos na internet pra não minar minha expectativa.
Conhecemos o nosso guia, o Alex, que nos conduziu por caminhos maravilhosos e seguros durante os dois dias que exploramos a região.
No horário combinado (8 horas) encontramos o Alex, recebemos nossos capacetes com lanternas e seguimos de carro até a entrada do PETAR Núcleo Santana onde fica a Caverna de Santana. Há uma pequena base de apoio bem próxima às bocas das cavernas e nem precisamos levar nossas mochilas conosco para explorar o lugar. Deixamos tudo no carro, só levamos os capacetes, câmeras fotográficas e o tripé.
Andando por uma trilha bem estruturada para turismo, chegamos na boca da caverna de Santana.
A Caverna de Santana é a segunda maior do Estado de São Paulo e muitos nos falaram que é uma das mais bonitas.
Em todo o PETAR percebemos as formações de espeleotemas, que são formações esculpidas nas rochas pela água da chuva. Ou seja, o pinga pinga, além de formar estalactites e estalagmites, esculpem as rochas que se encontram abaixo do pinga pinga.
De toda forma, eu achava que o interior das cavernas seria mais úmida e até molhada. Esperava encontrar mais pinga-pinga em todo canto, mas não. Esta foi uma grande surpresa!
No começo do nosso trajeto dentro da caverna, dá até um estranhamento, porque não parecia que haveria algo tão maior do lado de dentro, mas conforme ia entrando, percebi que colocaram estruturas para os visitantes andarem lá dentro de forma bem fácil. Então senti que não haveria dificuldades lá dentro exceto pelas escadas de troncos de madeira escorregadias e a quantidade de insetos que voavam atraídos pelas luzes dos nossos capacetes. Como éramos os primeiros do dia a entrar na caverna, a quantidade de insetos em nossos rostos foi absurdamente claustrofóbica. Pra se ter uma ideia, eu não conseguia nem abrir meus olhos pra ver onde estava pisando. Estes insetos ficam próximos à água do Rio Roncador (que corre dentro da caverna) e quando conseguimos chegar num trecho dentro da caverna sem água, eles sumiram. E foi aí que comecei a perceber a caverna.
A Caverna de Santana é muito bonita, não tem como negar. Possui muitas estalactites e estalagmites espalhadas em todos os cantos. Algumas com formatos esquisitos e outras com colorações surpreendentes.
Uma informação relevante para quem tem restrições de mobilidade: o terreno da Caverna de Santana foi adaptada para que o trajeto seja mais fácil lá dentro. Algo parecido com que fizeram com a Caverna do Diabo (que não fomos e como bem disse a Tata Morini, não faz parte do PETAR), porém, lá é realmente muito, mas muito escuro. Toda a adaptação foi feita com materiais do próprio local a fim de não danificar a caverna ou destoar muito do seu ambiente.
Bom, falei que é escuro não é mesmo? Então... foi aí que eu percebi que mesmo com tripé, as luzes de nossas lanternas dos capacetes não seriam suficientes para auxiliar nos registros fotográficos. Então o nosso guia Alex sugeriu voltarmos à cidade para buscarmos lanternas da base do Parque Aventuras. E foi isso, rapidamente fomos e voltamos no mesmo ponto, com luz suficiente para registrar e até mesmo ver o que não conseguíamos ver até então.
Para quem quer fotografar, sugiro levar ao menos duas lanternas de boa qualidade e com bom alcance. Como cada salão dentro das cavernas são enormes, a luz se perde. E nada de inventar de levar aquelas lanternas de luzes coloridas hein? Tira todo o charme das formações rochosas.
O trajeto dentro desta caverna dura cerca de 2 horas. Apesar dela ser grande, os turistas não vão a todos os cantos dela. Acho que se isso fosse permitido, a exploração duraria o dia inteiro. Mas o fato é que nem todas as passagens dentro dela são possíveis por medida de segurança. Fico imaginando como deve ser toda a extensão dela, deve ter cada formação linda!
O guia acaba te levando em vários pontos interessantes lá dentro. É incrível que às vezes parece que é o fim da linha mas magicamente há um canto que você passa e acaba caindo em outro "salão".
O que eles chamam de "salão", nada mais é do que os espaços que dá pra gente explorar de forma ereta. Não há trechos difíceis na Caverna de Santana e é muito fácil para qualquer idade explorar. Lógico que há trechos que requerem mais atenção.
Este passeio começou às 09h e quando fomos ver, já era 12h30 e chegamos à base do parque e almoçamos. Tranquilamente, pegamos nosso almoço no carro e tivemos cerca de 1 hora para almoçar. O local possui banheiros.
Como eu disse no box de dicas mais acima, você tem que levar o seu almoço, porque o passeio é preenchido por visitações e explorações de cavernas. Então para otimizar este tempo, você vai almoçar exatamente o que levou, porque o local não possui estabelecimentos que vendem comida. Uma outra dica que passo é providenciar algum isolamento térmico para sua comida, porque o carro fica no sol e a comida, dentro do carro, pode vir a estragar.
Neste momento choveu forte e depois saiu um sol forte. Resultado: o ar ficou pesado.
dica de viagem e do que fazer no petar parque estadual turístico do alto ribeira
Núcleo Santana: Caverna de Morro Preto
Como eu disse, choveu e fez sol no horário do almoço, e como o PETAR é pura Mata Atlântica, lógico que esta combinação pesou e muito em cada degrau que eu tive que subir até chegar na boca da Caverna de Morro Preto. O trajeto é muito curto, muito mesmo. Mas como eu era sedentária, foi difícil respirar aquele ar e fazer esforço físico.
Para o meu alívio, todas as cavernas possuem sistema de "ar condicionado" natural. Lógico que é uma piada, mas digo que era uma delícia chegar perto das aberturas das cavernas e ter um alívio para o calor, com aquele ar naturalmente frio. Uma delícia!
Chegando na boca da Caverna de Morro Preto ela me pareceu promissora! A entrada era grande e com formações de estalactites e estalagmites bem grotescas e diferentes. Achei muito interessante!
Pra entrar nela já percebi uma diferença em relação à Caverna de Santana: não tinha uma "passarela" praticamente reta para entrar na caverna. O negócio lá era descer pelas pedras caminho abaixo. "Bom... exploração de caverna deve ser isso mesmo" pensei eu. Eu realmente não imaginava encontrar uma Caverna com caminhos tranquilos como a de Santana, então achei legal sentir um stress da possibilidade de me machucar a qualquer momento.
Junto com a gente havia mais dois grupos de pessoas com outros guias. Foi legal entrar nesta caverna e em um dado momento observar as luzes de outras pessoas lá no fundo, passando pelas rochas.
Como a entrada desta caverna é enorme, mais luz entrava no seu interior, mas mesmo assim, o uso das lanternas dos capacetes era necessária porque os detalhes ficavam difíceis de perceber. Mas já dava pra ver que o salão principal desta caverna era gigantesco!
Também percebi que a Caverna do Morro Preto era mais escorregadia e algumas escadas de troncos que colocaram por lá, ficavam bem escorregadias.
Várias passagens eram muito sinuosas, conforme a formação rochosa encontrada por lá. Andávamos em lugares que eu jamais pensei que conseguiria andar. Deu um medo enorme de cair... sério... Mas o guia é muito cuidadoso em nos levar a lugares mais seguros.
O legal dos passeios é que em todos, o guia Alex pedia para desligarmos as luzes das lanternas dos capacetes e ficávamos na maior escuridão e silêncio absoluto. Sempre que isso acontecia, era o momento de descanso e momento de direcionar a energia ao centro do nosso corpo e mente. Muito bom!
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Núcleo Santana: Caverna do Couto
A Caverna do Couto é um tipo de extensão da Caverna do Morro Preto. Na verdade ela nem parece uma caverna, mas parece mais um túnel. A entrada é difícil de acreditar que um dia alguém encontrou-a porque é quase uma parede com um buraco escondido. Mas depois que você entra, vê um rio estreito correndo e muitas pedrinhas por onde você vai se equilibrar para não ficar com os pés molhados.
Andando por uns 400m acabamos alcançando o outro extremo, caracterizado por uma fenda com um formato muito interessante (veja foto abaixo). O trajeto é rápido e indolor. Mas tem que ter bom equilíbrio para não molhar os pés, sem muito risco.
Depois que apreciamos o lugar, demos meia volta e voltamos ao local de entrada da Caverna do Couto.
O caminho todo da Caverna do Couto realmente não tem nada lá muito "wow"... Mas a fenda final é simplesmente fantástica! Cheguei a duvidar se realmente foi a natureza que a fez!
O local estava com uma névoa mágica! Amei aquela atmosfera! Parecia um presente!
Toda aquela água que corre pela Caverna do Couto acaba caindo e formando a Cachoeira do Couto. E é lá onde o passeio termina. Quase às 16h, com muito calor e cansados, o negócio é cair na água.
Eu não fui porque a água estava geladíssima e não tinha levado roupa de banho (eu sabia que era pra levar mas sabia que não entraria na cachoeira). Eu até coloquei meus pés na água, mas era tão gelada que quase me deu cãimbra!
A cachoeira possui uma queda d'água de 5 metros e é bem pequena. Mas foi divertido observar as pessoas se divertindo lá.
A profundidade desta "piscina" da cachoeira não é funda, tanto que havia crianças brincando de boa lá. Mas a maioria das pessoas estava assustada com a temperatura gelada da água.
No final, estávamos muito cansados, suados, sujos e mal sabíamos que o esforço físico que teríamos no outro dia iria colocar este primeiro dia no chinelo!
Voltamos à pousada, tomamos banho e jantamos. Deu até um pique de ir até mais adiante na rua do bairro e comer um sorvete. Mas como o próximo dia tínhamos que sair às 06h30 da manhã, resolvemos dormir cedo.
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Núcleo Caboclo: Caverna Temimina
Como no primeiro dia de PETAR eu me senti tão despreparada fisicamente para realizar um ecoturismo-aventura, fiquei um pouco preocupada com a trilha de um pouco mais de 9 quilômetros (no total) da Temimina. Sabia que era um circuito mais "hard" e não haveria caminhos retos para colocar os pés.
Sabia disso tudo mas mesmo assim seguimos em frente.
O dia já estava diferente do anterior: chuva fraca quase sem parar. Fiquei preocupada mas o guia nos disse que daria para fazer a trilha numa boa. Então, quem era eu pra duvidar? Fiquei com uma pequena esperança do sol aparecer, mas sinceramente, foi melhor a chuva do que o sol. No dia anterior, com o sol, tudo ficou muito pesado. A umidade do lugar + o sol, deixou o ar tão pesado que uma simples subida de 300m quase me destruiu. Imagina a trilha da Temimina naquele calor? Não.... mil vezes a chuva e tempo nublado pra ajudar nesta empreitada! No final, a chuva foi uma mega sorte!
Saindo às 06h30 seguimos de carro junto com o guia na estrada que vai até a cidade de Apiaí. O PETAR fica dividido entre duas cidades: Iporanga e Apiaí. Para quem não sabe, Apiaí é uma das cidades mais frias de São Paulo, porque ela fica muito acima do nível do mar. Quando passamos pela cidade notei imediatamente a queda na temperatura e percebi que a cidade é bem fofa e possui grande produção de cerâmica. Não paramos para ver, mas fiquei curiosa.
Condições da estrada: da pousada até Apiaí é estrada esburacada de pedrinhas. Em Apiaí a coisa melhora, com asfalto passando por reforma, um pequeno trecho de asfalto digno de asfalto da Áustria e depois viramos à direita e seguimos em uma longa estrada de pedrinhas e buracos. Por isso que a saída para o passeio acontece às 06h30.
Ao estacionarmos o carro perto da entrada da trilha, vestimos as perneiras que além de nos proteger de possíveis picadas de cobras (sim!!! cobras), protegeram e muito as nossas canelas de batidas e caídas que aconteceram na trilha. Depois que entramos na trilha da Temimina, pegamos um cajado (dica: ele ajuda muito a se equilibrar e a dar uma moral na caminhada) e o que nos restava a fazer era só seguir em frente.
No começo parecia tudo ok... um caminho com leve subida e leve descida, mato baixo, e muitas poças d'água e lama, muita, mas muita lama. Após 15 minutos de caminhada já sentia um dos meus pés molhados. Fiquei preocupada da minha pele do pé assar, mas segui em frente, não tinha o que fazer.
A lama prendia os pés como piche no chão. Acabamos fazendo mais esforço nas pernas para levantá-las. E também escorregamos muito.
Depois de um bom tempo, acabamos chegando na "trilha de verdade", a vegetação até deixava tudo mais escuro. Não tirei quase nenhuma foto do trajeto porque estava chovendo e era tudo muito escorregadio e eu precisava prestar muito a atenção onde pisava para não levar um tombo. (leve em consideração que não estava com uma GoPro, mas sim com uma câmera de 1,6kg)
As subidas e descidas começavam a pesar. As subidas porque eram longas e, apesar dos degraus improvisados em alguns trechos, estes eram muito altos. As descidas começavam a machucar meus dedões do pé com o impacto do passo. Estava começando a pesar o corpo e teve momentos que eu pensava: "que diabos estou fazendo aqui?"
Mas de toda forma, segui em frente com bom humor e confiante.
Mal sabia eu que as coisas seriam piores, com muitas pedras escorregadias para pisar e muitas raízes de árvores escorregadias para pisar. E de quebra, o risco de cair num abismo direto à morte certa. Foi tenso e a caverna parecia tão distante...
O negócio é tão tenso que o guia Alex estava com um aparelho de localização geográfica que mostrava a nossa evolução à base do Parque Aventura. Achei ótimo e fiquei feliz em saber que, apesar do nosso despreparo físico, havíamos alcançado a primeira abertura da Caverna Temimina às 11h da manhã, conforme o previsto. Para quem não sabe, a caminhada começa às 09h e do portão de entrada até a primeira entrada da caverna leva 2 horas.
Chegando lá, ficamos perplexos de como a caverna é grande. O primeiro salão (o mais alto) é absurdamente alto (cerca de 25 metros de altura). Possui uma abertura causada pela queda de todo o teto da caverna e devido a isso, há muita vegetação dentro da caverna.
As fotos não mostram exatamente o que vimos por lá, é tudo tão megalomaníaco de grande que as fotos nem conseguem interpretar o que vimos.
Ficamos um bom tempo nesta primeira abertura da caverna e almoçamos por lá. Mesmo sendo um pouco cedo, acabamos comendo porque havíamos gastado muita energia para chegar lá em cima.
Depois exploramos muito a caverna, subimos e descemos em tudo que conseguimos (porque tudo é escorregadio lá). A chuva que caía pelo buraco do topo da caverna dava uma atmosfera única!
Depois partimos novamente para a trilha e descemos um pouco mais para chegarmos à segunda abertura. No total são três aberturas da Temimina. A trilha vai contornando a "montanha" toda de forma circular e neste caminho você encontra as 3 aberturas. Cada uma tem a sua característica.
A segunda abertura parecia menos promissora mas o grande lance dela é subir todo o conglomerado de rochas e lama que tem lá dentro e observar o que tem lá atrás. Neste caminho, depois que você consegue vencer o barro escorregadio das rochas, enfrenta mais rochas com aquele medo de cair e quebrar todos os dentes. Mas chegando lá atrás vale muito a pena ver as estalactites de lá e o formato da abertura da entrada.
A exploração da segunda abertura é mais rápida, apesar de ser mais difícil ultrapassar as rochas internas. Depois de conhecer este espaço, novamente partimos para a continuação da trilha, por onde descemos mais um pouco para a terceira e última abertura. E a abertura realmente fica lá embaixo, você tem que descer na escuridão total e se molhar!
Há um rio que corre lá dentro e já digo para tomar cuidado porque há fezes de morcegos nas rochas que possivelmente você vai colocar as mãos para ajudar no equilíbrio da descida.
O trecho com água era o que mais me atormentava. Eu não queria de jeito nenhum molhar minha câmera fotográfica e não tive tempo suficiente para ir atrás de uma bolsa estanque para protegê-la antes da viagem. Fiquei com muito medo da travessia na água ser necessário mergulhar, até porque, estava chovendo e o fluxo do rio poderia estar alto. Mas nada disso aconteceu. Todos os trechos de água por onde passamos não superaram a altura do meu umbigo (eu tenho 1,56m)
Nesta terceira entrada da Temimina você vai precisar de muita luz pra ver até os seus pés. É uma completa escuridão lá dentro!
Há umas formações de estalactites maravilhosas que até parece que você está em outro planeta! Tentei fazer um vídeo lá dentro mas foi impossível, mesmo com todas as luzes que levamos. Como este salão é enorme e profundamente escuro, a luz se perdia lá dentro, no fim, era como se não tivéssemos nenhuma luz conosco.
Como há um rio correndo lá dentro, é lógico que há mosquitos ávidos pela luz das nossas lanternas, mas não chegou a ser um absurdo como aqueles que encontrei em Santana.
Lá também há uma formação de estalactite bem peculiar, apelidada de "chuveirinho". Quando ouvi falar e vi fotos, imaginei algo pequeno. Só chegando lá é que percebi que na verdade era um chuveirão! A água cai daquela formação e acabou furando a estalagmite de baixo, formando um tipo de copão de base. É tudo tão surreal que é até difícil explicar!
O trajeto todo é muito bonito, apesar da escuridão, com calma e baixando a ansiedade, aos poucos conseguimos absorver a beleza do lugar. O rio que passa lá dentro não parece forte, mas é e muito. O guia Alex teve que me segurar em uma das passagens, senão eu teria caído e talvez seria levada pela correnteza. O chão é todo de pedras do tamanho da palma da mão e, lógico, escorregadias. É bem aventura mesmo, mas todos os outros trechos o guia nos levou em caminhos muito seguros.
Depois vamos andando e andando pela margem do rio e chegamos no final da caverna, num percurso lindíssimo. Eu estava tão cansada e quase não tirei fotos. Mas tirei as fotos, ainda bem!
A trilha de volta é atormentante. Além do iminente risco de quedas certeiras rumo à morte nos abismos, tivemos quase 1km de subida íngrime (ou escalada). Era tão íngrime que o "chão" batia no rosto. Minhas pernas já não me respondiam mais. Eu as puxava uma a uma com as mãos. Foi muito difícil e o guia Alex me ajudava em trajetos que eu desfalecia, me puxando como se eu fosse uma cenoura, tamanha a força do rapaz!
Haviam degraus realmente altos e meu esforço acabava sendo maior do que para os meninos. Alguns pontos de descida, eu simplesmente me jogava, porque não dava pé pra mim. Vários lugares eu meio que ia de bunda, porque, desta forma, a queda certa seria mais controlada. Não caí feio, mas as duas vezes que caí eu já usava a tática de ficar mais perto do chão pra não me machucar muito, tanto que voltei sem um arranhão.
Usei muito as mãos para me apoiar em raízes e pedras e ia o mais agachada possível para evitar quedas bruscas (nos caminhos sinuosos com rochas). Minhas unhas ficaram horríveis, mas nada que o banho não as recuperasse.
As perneiras ajudam e muito a seguir em frente. Se não fosse por elas, com certeza o trajeto seria impossível, porque você bate muito a canela em tudo. O Alex dá várias dicas sobre as plantas que devemos evitar encostar porque tinham espinhos.
Apesar de ser verão úmido, como disse no começo, a chuva ajudou a conseguirmos completar o trajeto sem acidentes e incidentes (de tonturas ou desidratação), amenizando a temperatura e o ar não estava abafado. Mas mesmo assim suei que nem uma condenada em um deserto.
Por incrível que pareça não havia tantos mosquitos. No trajeto aparecia sempre um e outro borrachudo chato acompanhando por um bom tempo, zunindo no ouvido, mas ele não chegou a nos picar porque estávamos com muito repelente (aquele bom que dura 8 horas) e não parávamos quietos (sempre andando). No caminho de volta, passamos mais repelente para garantirmos uma volta sem picadas (até porque suamos muito).
O maior vacilo foi não ter levado água suficiente. Pensávamos que encontraríamos bicas de água por lá e elas até existem.... mas como choveu, a água estava amarela e bem duvidosa. Eu evitei ao máximo, mas não sofri com isso, graças ao tempo nublado e chuvoso. Se estivesse sol, com certeza eu teria dado trabalho com desmaios e tudo.
Outra coisa que faz a trilha ficar mais difícil é ter que levar muita coisa com você: além da minha câmera de 1,6kg, tinha o tripé, a mochila, água, almoço, repelente e lanternas.
Dica: o guia vai te falar, mas reforço que para esta trilha é sempre bom levar e deixar no carro uma muda de roupas completa, uma blusa (porque o tempo pode mudar na volta) e um calçado seco. Já que o trajeto é bem lamacento e molhado, para aguentar a viagem de volta é importante se trocar na base da Temimina. Ah, e leve um lanchinho também para comer no caminho de volta!
Depois de 2 horas de estrada ruim, chegamos ao Bairro Serra em Iporanga na pousada do Sr. Abílio e lá despencamos e dormimos para nos prepararmos para o dia seguinte na volta à São Paulo.
Hospedagem:
Nós ficamos na Pousada do Abílio que é um local muito, mas muito, muito mesmo simples. Não esperem uma locação cinematográfica. A pousada é do Sr. Abílio, um senhor muito simpático, prestativo e profissional. A mulher dele até acordou mega cedo no dia que fomos à Temimina porque ficou preocupada em nos deixar sem o café da manhã, ou seja, que preciosidade de mulher! Senti um carinho imenso deles. Além disso, nos deram cobertores e lençóis, itens que deveríamos ter levado, mas foram sempre muito prestativos e simpáticos!
Os preços são bem competitivos: R$60/diária/pessoa incluso café da manha + almoço ou jantar. A comida é bem gostosa e tudo é limpinho. Percebi que muitas pessoas que estavam em outras pousadas acabavam indo lá no Sr. Abílio para jantar ao preço de R$15/pessoa. E se come à vontade, o que é ótimo pra quem fez exercício físico pesado o dia inteiro.
Além da casa da família do Sr. Abílio, há 3 casas para hospedagem no terreno, todas com banheiro interno e beliches. Do lado de fora há um tanque e varal para lavar as roupas da lama e suor. A casa que ficamos tinha 5 beliches, cabendo então, 10 pessoas, mas éramos os únicos. O banheiro era mega simplório, mas a casa que ficamos também tinha um banheiro do lado de fora todo reformadinho. Não entendi por que o melhor banheiro estava fora da casa rsrsrsrs, mas ok. Ah... fomos numa época muito úmida, então, nada secou no varal rsrsrsrs. Contato para a pousada somente pelo Facebook ou telefone, mas é melhor ligar (foi o que fiz). Endereço: Rodovia Antônio Honório da Silva km 13. Telefone: (15) 3556-1405
Para quem quiser outro tipo de hospedagem, procure as que indiquei no mapa (é só clicar na imagem ao lado)
Offline:
Aproveite para ficar offline. Algumas vezes o sinal da rede 3G ou 4G falha (por isso é melhor ligar do que depender da internet para se comunicar com a região). Só uma operadora de celular funciona e ela começa com a letra V. Isso eu digo que acontece na região inteira.
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