Dicas de Viagem para conhecer a Rota Laranja do Instituto Inhotim com destaque para todas as obras e galerias de um dos maiores parques e museu de arte. Seguindo praticamente no canto sul a partir da recepção, damos uma volta em um dos trechos mais longos do instituto. Apesar de parecer longo, para quem teve a sorte de dividir o parque em dias, o passeio não é cansativo e no final do trajeto, você acaba percebendo que percorreu tudo até que rapidamente.
A Rota Laranja te proporciona a visitação de quatro jardins temáticos: o Viveiro Educador que possui o Jardim Desértico (que é maravilhoso), o Jardim de Todos os Sentidos e o Jardim de Transição + o Vandário.
Para esta rota descrevo o começo no trajeto sul mas o mais indicado é começar pelo caminho que te leva à Galeria Adriana Varejão e de lá, seguir pelo lado traseiro da galeria para o quarto lago do instituto, que possui uma coloração bem azulada e "cair" na belíssima Galeria da Lygia Pape.
Antes de tudo, #abracebrumadinho para que o potencial turístico e a alegria volte a Brumadinho! Não deixe de ler sobre a Rota Rosa e a Rota Amarela também!
ROTA LARANJA
Galeria Lygia Pape - Ttéia 1C, 2002
Considerada uma das mais importantes artistas brasileiras do século XX, Lygia Pape traz esta instalação artística que é o resultado de suas experiências que se iniciaram em 1977 onde ela fazia o uso de fios esticados em meio à natureza. De lá para cá, a artista realizou desdobramentos daquela primeira obra e suas grandes instalações com fios metalizados que unem elementos da arquitetura.
O título da obra nos dá uma ideia de teias e a palavra "teteia" é uma palavra coloquial para denominar pessoa ou coisa graciosa.
inhotim - rota laranja com Textos e fotos propriedade de Itinerário de Viagem
Igrejinha
De forma inusitada encontramos uma igrejinha dentro de Inhotim. Não foi um encontro ao acaso, já que ela está apontada no mapa. Mas é curioso a presença dela. Ok... nem tanto se pensarmos que o Brasil é praticamente um país católico, mas a igrejinha está lá aberta a eventos para qualquer pessoa que possa ou queira, reservar. E como é uma igreja, casamentos acontecem por lá! E bem ao lado há um espaço para a realização de uma pequena recepção para convidados.
O mais curioso é conhecer a sua história. Ela foi construída pela iniciativa da população, mas hoje ficou segregada da mesma.
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Vandário
O Vandário foi inaugurado em 2014 e é um espaço mágico em Inhotim. Como fica em uma das margens do lago da Rota Laranja, traz uma atmosfera única para as flores que habitam o local. São cerca de 350 orquídeas do grupo das vandáceas, originárias do Sudeste Asiático e da Austrália. Todas absurdamente lindas, e são consideradas raras.
O mais gostoso do espaço é poder andar entre as flores e aquelas orquídeas de raízes expostas penduradas por toda a estrutura dão um chame surreal ao local. Dá até uma impressão de que você no meio de vários alienígenas.
Dos 07 jardins temáticos de Inhotim, este é um dos mais belos. Todos são, é difícil posicioná-los em um ranking, mas este, talvez pelas flores, é lindo demais!
Textos e fotos propriedade de Itinerário de Viagem
Galeria Adriana Varejão
Não posso deixar de expressar que esta era uma das galerias que mais queria conhecer em Inhotim. Desde que tomei conhecimento dos trabalhos da carioca Adriana Varejão, estava ansiosa em poder ver, enfim, algum trabalho dela ao vivo e isso incluía a visitação a esta galeria.
Adriana Varejão já foi mulher do dono de Inhotim e, portanto, a galeria dedicada a algumas obras da artista foi uma das primeiras que existiu no instituto. A arquitetura do prédio já chama a atenção, pois fica muito bem posicionada com um espelho d'água à frente.
Logo na frente da galeria você já pode ficar pertinho de uma de suas obras e pode até encostar, se sentar: "Panacea Phantastica", 2003-2008. É um trabalho de serigrafia sobre azulejos com o retrato de 50 tipos de plantas alucinógenas de diversas partes do mundo. Como a obra de arte é um banco, acho que o tema de plantas alucinógenas vem a calhar, pelo menos para mim parecia que eu estava tendo um efeito alucinógeno olhando a beleza do meu entorno, ou seja, para a galeria e o espelho da água, imaginando o que me aguardava do lado de dentro!
A ideia da obra sugere pensarmos na relação entre os efeitos alucinógenos das plantas e as mudanças na percepção que podem ser provocadas também pela arte.
Chegando perto da porta de entrada logo vi através da parede de vidro, uma das obras que mais queria ver: "Linda do Rosário", 2004. Este trabalho, a artista usou óleo sobre alumínio e poliuretano. O formato é como se fosse uma parede coberta por azulejos, que desmoronou e dentro das paredes você vê carnes, praticamente frescas. A obra foi inspirada no desabamento do Hotel Linda do Rosário, no centro do Rio de Janeiro, em 2002, cujas paredes azulejadas caíram sobre um casal num dos cômodos do prédio. Como a artista sempre faz trabalhos com azulejos, quando o hotel desabou, ela estava na cidade e fotografou um pouco do que pôde e percebeu que, apesar do desabamento, os azulejos estavam lá, firmes e fortes.
A carne dentro das paredes talvez seja uma referência a este casal que morreu no grave incidente. Há muitas especulações que cercam sobre a identidade do casal, sendo que uma das hipóteses é de que eram amantes.
Depois de escanear cada milímetro desta obra, meus olhos se voltaram à obra "O Colecionador", 2008 feito com óleo sobre alumínio e poliuterano. Nesta obra vemos o campo de pesquisa que a artista explora bastante: o azulejo. Só que esta pintura faz parte da série "Saunas". Ela usa uma palheta de cores quase monocromática que criam "um labirinto interior idealizado. Com seus jogos de luz e sombras, a pintura evoca espaços de prazer e sensualidade e reflete a arquitetura do pavilhão, propondo uma continuidade virtual do espaço." Engraçado que depois que você vê a obra Linda do Rosário e aquele vermelhidão de carne e certo terror, vem uma calmaria que um ambiente de sauna geralmente tem.
No segundo andar da galeria há duas obras. A primeira é a lindíssima e gigantesca "Celacanto Provoca Maremoto", 2004-2013, feita com óleo e gesso sobre tela. O campo de pesquisa aqui ainda são os azulejos, porém os azulejos portugueses na época barroca, dando um gancho no período de colonização e o mar entre Portugal e Brasil.
Entrando na sala, você observa azulejos em tamanho ampliado (em comparação aos azulejos normais) em 360 graus. As paredes praticamente da sala inteira estão cobertas com os azulejos gigantes, de forma desordenada. Alguns foram feitos como se tivessem sido quebrados e 'mal colados'. Muitos estão com aquelas rachaduras bem próprias de azulejos antigos, alguns com fissuras, tudo proposital. Mas o mais incrível é que, apesar de toda a desconexão de um formato ou um desenho completo, a nossa cabeça entende que aqueles azulejos possuem representações gráficas de uma tempestade em alto mar.
Talvez o maremoto identificado nos leve a crer que os azulejos portugueses que vinham de Portugal no início da colonização, às vezes acabavam quebrando e quando estes chegavam aqui, utilizava-se o barro para grudar os cacos e os azulejos e até meio que acabavam por se misturarem com temas dentre tantos outros azulejos.
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Dominique Gonzalez-Foerster - "Desert Park", 2010
Antes mesmo de eu ler o nome da obra da francesa Dominique Gonzalez-Foerster, achei o cenário da site-specific um tanto desértica, no estilo Mad Max. O momento estava particularmente quente, quente mesmo e olhando para aquele concreto todo, cheguei a pensar por um momento que aquilo não fazia parte, que talvez fosse alguma obra do estilo operária e não de arte. Mas não, era quase como uma miragem porque eu estava vendo um ponto de ônibus? Mas aqui passa ônibus? Wow.... que confusão mental que eu tive!
E não é que a obra se chama "Desert Park"? E não é que são pontos de ônibus em tamanho real? E não é que tem areia branca do deserto em volta? Não sei... só sei que eu fiquei boquiaberta de como esta obra mexeu com várias coisas comigo: me fez pensar, me fez ter um estranhamento, me deixou confusa, me deixou incomodada, me deixou eufórica e no fim, ao ler o conceito da obra eu só digo: BRAVA!!! Maravilhosa obra!!! Eu realmente fui tomada pela proposta da artista! GENIAL!
Tem coisas que só estando em Inhotim que a gente sente e passa a entender. Arte contemporânea é algo tão elevado que realmente mexe com os seus sentidos! Se alguém vir uma foto da obra da artista aleatoriamente, nunca perceberá o que ela quer passar sobretudo se este alguém não estiver vendo-a pessoalmente. Na verdade, eu nem sei se vou ser uma estraga prazeres para você que está lendo este texto, porque, o impacto que eu tive sem ao menos ler o nome da obra é que tomou conta de mim, e de forma absurda! Espero não influenciar as suas sensações quando você visitar Inhotim!
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Olafur Eliasson - "Viewing Machine" , 2001
Esta obra do dinamarquês Olafur Eliasson é um tipo de caleidoscópio feito de aço inoxidável e metal. Em proporções para Inhotim, você pode interagir com a obra, girando-a e vendo em 360 graus a paisagem do instituto e arredores formando cores e formas dentro das paredes espelhadas do caleidoscópio.
O artista gosta de trabalhar com fenômenos naturais, reexaminando nossa percepção sobre a luz, o tempo, a gravidade, o movimento e o som, com uso recorrente de elementos como vapor, água, fogo, vento ou o sol. Em "Viewing machine", assim como em outros trabalhos do artista, a experiência e o processo de percepção do visitante são o foco do artista. O caleidoscópio funciona como uma ferramenta que modifica nossa visão de mundo, e o prazer lúdico que ela proporciona é, como definição da obra, 'o prazer de sentir e perceber a nós mesmos".
Se puder evitar dias muito cheios em Inhotim, evite, porque a fila para observar esta obra de arte geralmente é grande quando o parque possui muitos visitantes. Dias cheios são: quarta (dia de entrada gratuita), feriados prolongados e finais de semana de períodos de férias escolares.
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Galeria Valeska Soares - Folly, 2005 - 2009
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Viveiro Educador
Um dos lugares que eu achei que não valeria uma visita acabou virando um lugar que visitei duas vezes, de tanto que me apaixonei e me surpreendi pelo lugar. Subestimei e fiquei de queixo caído de tão maravilhoso que é.
O Viveiro Educador é formado por 3 Jardins Temáticos: o Jardim de Todos os Sentidos, Jardim Desértico e o Jardim de Transição. Nos jardins do espaço Viveiro Educador são realizadas atividades voltadas para a manutenção do acervo botânico, pesquisa científica, conservação e educação ambiental. Há umas grandes estufas que não estão abertas para a visitação, justamente porque são ambientes de trabalho.
Segundo o site do Inhotim, o "conceito do espaço vai muito além do cultivo de espécies botânicas e da pesquisa científica. (...) Nele a informação e a prática contribuem para a construção do conhecimento, a sensibilização ambiental e a popularização da ciência de forma lúdica e interativa." Levamos cerca de uns 30 minutos para percorrer os 3 jardins nas duas visitas que fizemos a este espaço. Mas confesso que o jardim que mais dedicamos tempo foi o Jardim Desértico, lindíssimo! Para quem gosta de ver a beleza em todos os lugares e principalmente na natureza, vale muito a pena o passeio!
Jardim de Todos os Sentidos
Inaugurado em 2011, a proposta deste jardim é aguçar todos os sentidos mesmo. E é interessante como o jardim consegue explorar isso: visão, audição, paladar, tato e olfato. Você passa por três estruturas de canteiros, cada uma com uma segmentação de espécies: aromáticas, medicinais e venenosas. E você pode provar algumas, exceto as venenosas, lógico.
Foi ótimo rever algumas plantas que fazia um bom tempo que eu não via, além de poder provar ervas aromáticas bem diferentes!
Jardim Desértico
Eu havia apenas conhecido a estufa desértica do Brooklyn Botanical Garden em New York. Jamais imaginei que haveria algo na mesma linha aqui no Brasil. O que dá um toque especial a este jardim é que ele foi inspirado nas paisagens desérticas mexicanas e brasileiras.
Coincidência ou não, quando pisei neste jardim, mesmo no inverno ensolarado, este jardim estava pegando fogo, literalmente! Estava muito, mas muito quente e realmente me senti num deserto. Mas engana-se que este jardim só tem cacto. Veja só as fotos, quanta cor e quanta planta diferente!
Eu amei muito, mas muito mesmo este jardim.
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Galeria Psicoativa Tunga
A galeria dedicada a várias obras do pernambucano Tunga é bem grande. Aliás, para abrigar algumas de suas obras, só poderia ser em um lugar grande, senão elas perderiam o charme.
Li em algum lugar que o dono do Inhotim acabou primeiramente montando galerias para expor as obras que adquiriu de Tunga, já que não fazia sentido comprar obras de arte nestas dimensões e deixá-las em um depósito. Foi aí que surgiu a ideia de construir uma galeria. Depois de um tempo, expondo a galeria para amigos e próximos, ele percebeu que não faria sentido manter as portas fechadas à grande coleção de arte que ele possuía. Foi aí que surgiu a concepção de Inhotim.
Esta é uma das galerias de arquitetura notável em Inhotim. Aliás, quase todas são assim, deslumbrantes. Esta é uma que de destaca, porque parece uma casa de campo ultra moderna, cheia de vidros. Na varanda da galeria há redes de descanso, mas foi difícil encontrar uma vaga.
Dentro da galeria há muitas, mas muitas obras e uma video instalação no subsolo. É um bom passeio, o artista era bem refinado com o que fazia!
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Galeria Galpão
Esta galeria recebe exposições temporárias de dimensões grandes, já que é uma galeria bem grande, praticamente de vão único. Quando visitei estava abrigando a obra "I’m not me, the horse is not mine" do artista sul-africano William Kentridge. A obra está lá desde outubro de 2015 e é um conjunto de projeções de vídeo.
A obra faz uma referência a uma expressão utilizada pelos camponeses russos para negar a responsabilidade de algo. As projeções são fragmentos de um outro produto feito pelo artista, que é o filme de 2010 da versão do artista para a ópera "O Nariz", de Dmitri Shostakovich, que por sua vez se inspirou neste clássico da literatura russa escrita entre 1835 e 1836 por Nikolai Gogol. Trata-se de uma sátira que narra um homem que acorda de manhã e percebe que seu nariz desapareceu. Ele sai à sua procura e quando o encontra, nota que o nariz é hierarquicamente superior ao seu dono. Depois de vários encontros, eles acabam reunificados.
O artista utiliza várias linguagens nas projeções como performance, colagens, desenhos em carvão e principalmente stop motion. Eu sinceramente fiquei meio confusa... achei meio fora de contexto um clássico da literatura russa ter tanto destaque em uma galeria enorme. Mas pensando naquilo que eu imaginei quando estive nesta galeria, mesmo sem ter lido nada a respeito das projeções, que não somente camponeses russos usavam tal expressão para negar algo, hoje, tal expressão é totalmente uma realidade brasileira, principalmente no campo político. Bom, enfim... arte política eu não gosto. Já venho dizendo isso aqui no blog já faz um bom tempo. Não gosto mesmo, não curto.
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Jorge Macchi - "Piscina", 2009
Não, eu não entendo muito bem sobre esta obra e fica até meio difícil tentar explicar o óbvio. O artista argentino Jorge Macchi construiu esta piscina retangular em formato tridimensional (óbvio rsrsrs), sendo que o artista sempre produzia obras bidimensionais. Ele gosta de retratar objetos banais "reimaginados" em situações surreais. Então, nesta obra, o artista fez de uma lista de telefones (comumente usadas até a aparição dos telefones celulares) em formato de piscina, onde o visitante pode usar tal piscina nadando ao longo dos números do índice alfabético.
Acho que para a obra fazer sentido a nossos cérebros, é preciso mergulhar mais na carreira do artista, para aí sim, chegarmos à conclusão de que, não.... não é uma mera piscina.
Perto da piscina há um vestiário. Então, se você quiser entrar na obra de arte, leve trajes de banho. Não é permitido usar calçados em cima da obra e não há toalhas para você se enxugar. Acompanhe o vídeo que fizemos para ver se você tem coragem de entrar!
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Rirkrit Tiravanija - "Palm Pavilion", 2006-2008
Esta obra foi originalmente concebida para a 27ª Bienal de São Paulo, em 2006, pelo argentino Rirkrit Tiravanija. A construção é uma adaptação da famosa Maison Tropicale (1951), do arquiteto francês Jean Prouvé que desenvolveu um tipo de moradia pré-fabricada na França para os burocratas e comerciantes residentes nas colônias africanas.
Dentro da obra, foi interessante notar que parecia que eu estava na Ásia, em uma época de guerra, mais precisamente numa cabana da guerra do Vietnã. Em seu interior você encontra algumas espécies de palmeiras pequenas, vídeos, vitrines e mesas com objetos relacionados à planta, além de funcionar como ícone da história da arquitetura recente. Encontramos também uma série de imagens que têm a palmeira como referência cultural - incluindo ilustrações científicas, cédulas de dinheiro e selos.
Bem interessante, mas acho que eu precisaria me aprofundar mais a fundo no assunto para entender um pouco mais sobre a obra. Ok, sobre a problemática do óleo de palma eu já sei, mas o assunto é ainda mais vasto.
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Galeria Marilá Dardot - "A Origem da Obra de Arte", 2002
A mineira Marilá Dardot disponibiliza na galeria 150 vasos de cerâmica em forma de letras, terra, 12 tipos de sementes, instrumentos de jardinagem e texto em vinil, dimensões variáveis, além da galeria ser uma espécie de atelier de jardinagem. A obra propõe a interação do espectador onde o mesmo pode pegar alguns vasos letras para formar palavras, nomes ou até frases. Tudo depende de quantas pessoas estão interagindo no momento.
A maioria dos vasos letras estão vazios, mas o convite é este mesmo: pegar uma letra e ir até o atelier e plantar algo. Os vasos letras foram produzidos lá mesmo em Inhotim, num processo que durou vários meses e contou com a participação de dezenas de mulheres das comunidades do entorno, ou seja, de Brumadinho.
Como não havia nenhum monitor no local para nos instruir nas etapas de plantio, não plantamos nada. Eu realmente não sei se eu gostei muito desta obra. Preciso refletir um pouco mais a respeito
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Galeria Carroll Dunham
Esta galeria é dedicada a algumas pinturas de uma série do artista americano Carroll Dunham. As influências que marcam seu trabalho vão do expressionismo abstrato à pop art, passando pelo surrealismo, com um toque de erotismo e a estética de desenhos animados. Desta forma surgiram estes quadros, onde desenhos geométricos coexistem com formas orgânicas e a abstração dialoga com a arte figurativa e a dualidade entre natureza e cultura se revela por cores vibrantes.
Nas paredes da galeria estão cinco pinturas intituladas “Garden”, que foram concluídas em 2008. Bom... arte contemporânea pode não agradar a todos. Se até arte classicista não agrada a todos... Será que eu posso ser livre em expressar que eu não gostei das obras? Me desculpe a sinceridade, mas não curti. Se tem um único lugar que eu não gostei em Inhotim, pois bem, encontrei.
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Galeria Carlos Garaicoa - "Ahora juguemos a desaparecer (II)", 2002
A instalação de video, mesa e velas do cubano Carlos Garaicoa fica dentro da galeria que leva o seu nome, em uma grande escuridão, para dar ênfase nas velas acesas. Este trabalho pertence a uma linhagem de trabalhos surgidos desde os anos 1960, que foca na crítica à arquitetura. Em cima da mesa estão várias velas acesas com formatos de ícones mundiais da arquitetura e com o calor do fogo, todas são transformadas em uma espécie de ruínas.
Imagino o trabalho que esta obra dá, já que a equipe de Inhotim deve substituir as velas-arquitetura de tempos em tempos. Sem dizer que, onde estariam sendo feitas tais velas personalizadas? Mas no meio de tantos ícones da arquitetura, também podemos ver prédios comuns, daqueles que nem damos bola quando olhamos... talvez o artista quis dizer que todos, monumentos ou não estão fadados a um mesmo destino trágico.
Eu gostei muito desta obra, acho que realmente nos faz pensar sobre este tipo de fatalidade.
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Chris Burden - "Beam Drop Inhotim", 2008
A obra "Beam drop Inhotim" do americano Chris Burden é a recriação de uma obra que ele realizou originalmente em 1984 no Art Park, um parque de esculturas no Estado de Nova York, e destruída três anos depois. Daquela instalação só restou os registros em vídeos e fotos. De forma exclusiva, a obra foi refeita pela primeira vez em Inhotim em 2008, e novamente foram feitos registros fotográficos e fílmicos.
Durante 12 horas um guindaste de 45 metros de altura lançou em uma poça de cimento fresco as 71 vigas que compõem a obra. O resultado desta performance, além dos registros visuais, é a grande escultura que ocupa o alto de uma montanha em Inhotim. Apesar de aparentar um padrão aleatório escultórico formado pela queda das vigas, o artista esteve no controle das quedas, já que ele mirava o guindaste na poça de concreto fresco.
As vigas usadas nesta obra são de ferros-velhos próximos a Belo Horizonte e posteriormente manobradas pelo artista, para assim criar uma composição que remete à gestualidade do expressionismo abstrato, especialmente das pinturas de Jackson Pollock (1912-1956), que o artista aponta como referência importante da obra.
Quando você anda entre as vigas, em algum momento dá uma aflição, porque você acha que tudo aquilo pode desabar em cima de você. Depois de um tempo, mais confiante, você começa a interagir e começa a bater em cada viga, para formar algum tipo de som, algum tipo de música.
Achei a obra bem impressionante. Uma pena os registros feitos no dia da sua instalação não estarem disponíveis em nenhum lugar de Inhotim. Gostaria muito de ver e principalmente ouvir o som, que deve ter sido colossal!
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Chris Burden - "Beehive Bunker", 2006
E logo na sequência, depois de uma subida relativamente forte, você encontra mais uma obra do americano Chris Burden. Interessante notar o tipo de material com que ele trabalha e vemos que são matérias pesados, de construção, meio militar. A obra "Beehive bunker" é uma escultura que simula um tipo de estrutura bélica de defesa, ou seja, um bunker. O local escolhido para a instalação da obra é um dos pontos mais altos de Inhotim, que é como as operações militares escolhiam as posições de defesa e de vigilância.
A obra consiste em 332 sacos de concreto instantâneo dispostos em camadas alternadas e estruturadas mediante um sistema de irrigação que as tornou compactas. Algumas fotos tiradas logo depois da instalação da obra dava para ver até a cor e as letras impressas no pacote do saco de cimento. Depois de tanto tempo, o que vemos é apenas o cimento petrificado no formato que o artista o deixou.
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Giuseppe Penone - "Elevazione", 2000-2001
Esta era uma das obras que eu mais queria ver em Inhotim, a “Elevazione” do italiano Giuseppe Penone. Um dos mais importantes artistas da Italia desde o final dos anos 1960 que explora materiais não convencionais e alguns destes trabalhos são árvores. Aliás, recomendo a todos pesquisarem mais sobre este artista, porque ele possui muita coisa boa!
Penone sempre se mostrou interessado em realizar obras diretamente na natureza, associando intervenções escultóricas ao processo de crescimento de árvores. Como ele não queria fazer obras a partir das obras de outros artistas, ele voltou o seu olhar naquilo que conhecia, ou seja, a natureza. Desta forma, vemos em Elevazione uma das intervenções do artista na natureza.
A obra consiste em uma fundição em bronze de uma castanheira centenária sem a sua copa, à qual outras partes de árvores vivas foram soldadas. A grande árvore de metal está elevada por pés de aço. Ao seu lado estão cinco outras árvores da espécie Guaritá que, ao longo dos anos, irão crescer e se aproximar da escultura, como se a sustentassem e criassem um espaço arquitetônico para abrigá-la. Então já sabe... volte a Inhotim daqui a uns anos e verá uma transformação nesta obra!
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Elisa Bracher - "Embrionário", 2003 e "Equilíbrio Amarrado", 2004
E finalmente uma artista paulistana aparece em Inhotim! Elisa Bracher conta com duas obras de grande escala, trazendo os elementos marcantes de seus trabalhos: peso e equilíbrio. Em Embrionário (2003) são 13 toneladas de troncos de madeira se se apoiam e se empurram e, por mais que você se encoste e tente descolar um dos troncos, eles estão presos uns a outros, garantindo a segurança do visitante. Já em Equilíbrio Amarrado (2004) encontramos blocos de mármore que criam uma relação de tensão entre instabilidade e sustentação em uma instalação de seis metros de altura. São obras impressionantes que nos fazem pensar: como é que ela e sua equipe fizeram isso?
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Galeria Cosmococa
A Galeria Cosmococa é dedicada a vários trabalhos de Helio Oiticica em conjunto com Neville D'Almeida, majoritariamente feitos de projeções e instalações com piscina em um, redes de descanso em outro, chão macio para se jogar, ambiente almofadado com lixas de unha para você lixá-las, etc, trabalhos feitos em 1973. No total são 5 salas e para quem não sabe, Neville D'Almeida é cineasta. Antes de entrar, é necessário tirar os sapatos e é ligeiramente frio lá dentro.
As video-projeções rolam ao som de músicas de Jimi Hendrix, e entre uma imagem e outra projetada nas imensas paredes das salas, imagens de carreiras de cocaína aparecem. No primeiro momento eu não me identifiquei com a galeria porque eu não me identifico com entorpecentes e nem com imagens dos anos 70 onde a porralouquice era uma forma transgredida de impor a sua maioridade e “independência”. Mas se eu imaginar (ou palpitar) o que os artistas queriam propor com as obras até gostei: em cada um dos cinco espaços da galeria, há instalações que descrevi no primeiro parágrafo e nós, como visitantes, acabamos interagindo com o espaço e acabamos nem percebendo muito o que as imagens projetam. Como se o espectador fosse passivo às imagens.
Além da coca que a própria galeria carrega em seu nome, existe o "cosmo". Seria o cosmo da coca? Pode ser, pode não ser... mas cada sala é como se fosse um cosmo diferente. Quem sabe?
Eu também acho que os trabalhos da galeria tentam mostrar de forma interativa esta tal euforia que o artista sentia na época, mas que no final, ficamos passivos em relação às imagens projetadas. Foi interessante notar como as pessoas realmente abraçavam a proposta de ficarem alegres até demais lá dentro, e isso sem usar nenhum entorpecente ilícito. Bom, pelo menos assim espero eu.
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Galeria Cristina Iglesias - "Vegetation Room Inhotim", 2010-2012
Bato palmas de pé para a espanhola Cristina Iglesias. Depois que saí da Galeria Cosmococa, descendo o caminho você encontra a placa para a Galeria Cristina Iglesias. Ela fica no meio da mata, em uma curta trilha de terra. Quando avistei a galeria camuflada fiquei em choque! MARAVILHOSO!
A galeria-obra "Vegetation Room Inhotim" foi concebida especialmente para Inhotim e com certeza é uma das obras mais marcantes do instituto.
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Jardim Veredas
O último Jardim Temático que visitamos em Inhotim foi o Jardim Veredas, inspirado na obra de João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas. O jardim ocupa 6.000 m2 recheados de plantas, caminhos, bancos e espelhos d’água. Mais uma vez, o trabalho paisagístico é incrível! Encontramos também plantas aquáticas, semisubmersas e plantas “anfíbias” (capazes de sobreviver no período das cheias, bem como de se manterem no período da seca). Como é um dos poucos jardins com bancos para você se sentar, a visita pode ser prolongada e recarregar a energia!
Li no site de Inhotim que durante o mês de Novembro, o jardim é tema de visita temática ambiental.
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