O Itinerário de Viagem traz o diário de bordo da Tati, uma executiva brasileira que realizou um período sabático na Europa entre Abril a Agosto de 2012, onde incluiu aulas de inglês em Dublin e Londres, além de realizar viagens para Roma, Praga, Barcelona, Portugal, Escócia, Paris, Ilha da Madeira e Bruges.
Meu nome é Tatiana, tenho 40 anos e sou casada com o Rafa e mãe do Lucca de 1 ano e 6 meses. Sou também executiva de uma multinacional farmacêutica. Apesar da rotina intensa e corrida, que precisa ser dividida entre o trabalho, família e amigos. Eu adoro viajar, conhecer novas culturas, fazer novas amizades, ir aos parques, compras e museus, bater perna e ficar sem fazer nada. Gosto muito de observar as pessoas e seus gestos, nas viagens adoro ter um planejamento prévio, pois a viagem para mim, começa muito antes de fazer as malas e nunca termina, pois cada vez que lembro de uma viagem e começo a contar as minhas experiências, revivo tudo novamente. Porém, por mais que eu goste de planejar a viagem o imprevisto e inesperado, sempre são muito bem vindos. Quando vc. está aberta e sintonizada com a viagem e aberta para o novo, a experiência é muito mais intensa e emocionante. Já tive muitas experiências e formas de viajar, já viajei em grupo, em excursão, com a família e sozinha. Todas as experiências foram legais e cada uma delas com a sua beleza. Porém, a melhor viagem aconteceu quando eu estava aberta para o novo e inesperado. Nesse momento, tive a oportunidade de refletir sobre a minha vida, meus valores, sonhos e o que me faz feliz. Quando eu consegui fazer isso, mudei completamente a minha vida e história. Isso aconteceu no meu período sabático.
Em 2011, eu estava descontente com minha rotina profissional e pensava seriamente em mudá-la. Na época, eu trabalhava muito e pensava em comprar um apartamento para mim.
Estava bem posicionada profissionalmente, mas sentia que alguma coisa não estava caminhando como eu gostaria.
Apesar de planejar a compra do apartamento, sentia-me incomodada em morar sozinha. Eu queria estar em uma casa cheia! Não fazia sentido para mim investir em um apartamento para morar sozinha. A ideia de usar o dinheiro que eu estava juntando pro apartamento para viajar sempre me vinha a mente, mas me parecia muito arriscado.
Um dia, participei de um treinamento de liderança na empresa, onde o foco era o autoconhecimento. Um líder tinha que ser conhecer bem para poder liderar. Nesse treinamento, uma das atividades propostas discutia nossos valores e decisões e seus prós e contras. Terminado o primeiro dia de treinamento eu decidi que era a hora de colocar no papel todos os prós e contras da decisão de tirar um ano sabático.
Após algumas horas de reflexão (e de várias cervejas) está clara a conclusão: os prós eram maiores que os contras e os riscos associados eram pequenos. Naquele momento eu decidi: “Vou tirar um ano sabático!”
No dia seguinte fui conversar na empresa sobre a minha decisão. Meu gestor entendeu meu posicionamento e iniciou o processo junto ao RH da empresa para aprovação de meu período sabático.
A solicitação passou por todas as instancias, chegando a ser avaliada até pela matriz americana da empresa e meu período sabático foi autorizado. Eu poderia tirar 5 meses sabáticos + 1 mês de férias e retornar a empresa ao final do período. Isso tudo ocorreu aproximadamente 1 ano antes da data prevista para o início do período sabático.
A partir desse momento, fiquei mais tranquila, conheci várias pessoas e organizei viagens sozinha pela Europa. Fui conhecer Lisboa, Praga, França (Paris + Vale do Loire), Bélgica e Espanha.
Quando o período de Londres estava acabando, a ansiedade voltou a subir: “Será que eu ia gostar de Dublin? Valia a pena ir para lá se eu já estava tão confortável em Londres?”
Após conversar com alguns amigos, resolvi seguir os planos iniciais e ir para Dublin. Realmente, não me arrependi!!
A partir do momento que recebi o ok, comecei a me organizar financeiramente para a viagem.
O primeiro passo foi custear a viagem através de conversas com amigos e conhecidos que já tinha ido viajar para os lugares que eu imaginava. As informações e dicas desses conhecidos me ajudaram muito.
Além disso, pesquisei também muita informação na internet. Assim, consegui estimar os custos total da viagem.
Apesar de ter tudo alinhado para retornar à empresa, fiquei com receio de voltar e ficar desempregada. Com isso em mente, calculei também quanto eu deveria ter para aguentar ficar 6 meses desempregada quando retornasse. Com todas essas estimativas feitas, comecei a economizar.
Faltando 2 meses para realização da viagem, senti muito medo de estar seguindo por um caminho errado e pensei em cancelar o período sabático. Nesse momento, todos me ajudaram a criar coragem de ir em frente, inclusive a empresa. Tomei então folego para ir em frente.
Desenhei minha viagem em 3 etapas:
1) Estudar inglês em Londres durante 3 meses (ficando em residência estudantil);
2) Estudar inglês em Dublin durante 2 meses (ficando em casa de família) e
3) Viajar pela Europa.
No dia 04/04/2012 inicio o meu período sabático e eu estava entre felicidade e tensão.
Antes de chegar em Londres passei pela Itália para encontrar minha irmã que estava morando lá. Passei com ela 4 dias na semana santa. Esse período me deu forças e fé para acreditar que tudo daria certo.
Chegando em Londres, começaram as aulas de inglês. As aulas ocorriam em horários variados, as vezes pela manhã e as vezes a tarde. O “caos” de aulas alternadas me gerou muito desconforto. Foi nesse momento que parei para refletir e percebi a importância da rotina para minha vida. Fui então conversar na escola sobre a possibilidade de fixar os horários das aulas em algum período e consegui uma grade de aulas somente pela manhã.
Ao chegar em Dublin fui recebida pela senhora da casa onde eu ia ficar como se eu fosse alguém da família.
Fiquei surpresa quanto a receptividade dos irlandeses. Para vocês terem ideia do que estou falando, um dia estava na rua perdida, olhando num mapa para onde eu deveria ir quando um carro parou e uma senhora me perguntou: “Posso te ajudar?”. Tentei explicar para ela o que eu queria, mas não consegui entender a explicação que ela me dava. Para me ajudar, ela pediu que eu entrasse no carro e me deu carona até o local onde eu queria chegar.
Não preciso nem falar, Dublin foi meu lugar favorito!! Além de conhecer lugares lindos na Irlanda, eu me sentia em casa e bem recebida em todo lugar.
Outro ponto que não posso deixar de contar é que Dublin tem muitos brasileiros (definitivamente, se você quer aprender inglês fuja de Dublin rsrs).
Em meu primeiro dia de aula, o professor sugeriu a um dos alunos brasileiros que ele me levasse para conhecer a cidade. Marcamos vários passeios e baladinhas. E acabamos ficando juntos durante esse período que eu estava em Dublin.
Enquanto estava na Irlanda, como o acesso da Irlanda ao restante da Europa era mais difícil que de Londres, acabei viajando mais pela Irlanda que para outros países. Foi magnífico, pois a Irlanda é um lugar de grandes belezas naturais e de lindas cidades pequenas que eu gostei mais do que conhecer as outras grandes cidades.
Ao final dos meus 2 meses na Irlanda, resolvi cancelar o meu mês de viagens e voltar para o Brasil, devido a um problema de saúde na família. Naquele momento, um pouco antes de voltar, decidi que já podia comprar meu apto. Comecei a pesquisa-lo pela internet logo nas primeiras semanas que cheguei no Brasil.
Chegando em casa, abri a porta e vi que tudo estava exatamente igual. Tudo estava exatamente no mesmo lugar que eu tinha deixado. Nem a minha plantinha tinha morrido.
Naquele momento pensei: “Estava sonhando e acabei de acordar.”
Percebi que se eu não tivesse ido viajar, as coisas não teriam mudado. Eu não teria mudado. Nesse momento, percebi que tinha acertado na decisão de ir e que tudo tinha valido muito a pena.
Alguns meses depois, mudei então para meu novo apartamento e a minha irmã que morava na Itália voltou para o Brasil e foi morar comigo.
Na sequencia o brasileiro que eu tinha conhecido em Dublin voltou para o Brasil e começamos a namorar. Alguns meses depois mudei de emprego.
Pouco tempo depois, engravidei , em Maio/14 nos casamos e em Out/14 nasceu o meu primeiro filho.
O medo que eu tinha de comprar um apartamento e morar nele sozinha não se concretizou. Hoje a casa está cheia e a minha vida completamente transformada.
E o período sabático foi o estopim meu autoconhecimento e para a sequência de felicidades que vem me ocorrendo desde então.
Todas as fotos são de autoria do entrevistado e cedidas para uso exclusivo do Itinerário de Viagem. Direitos reservados, por favor, respeite!
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