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19 de Março: Dia de São José e dia de Zeppola
Postado por Estela T em 13/03/2022 Editado em 30/04/2023
 

Você sabia que na Itália o dia 19 de Março é comemorado o Dia de São José, ou em italiano: giorno di San Giuseppe ?

O dia de San Giuseppe é o equivalente ao Dia dos Pais, já que o país católico considera o pai de Jesus como o pai dos pais. E como Itália é o país de comida boa, não poderia deixar de associar ao dia alguma comida boa, ou seja, é também o dia de Zeppola (no plural em italiano é zeppole) que nada mais é do que um tipo doce recheado tipo pâte à choux frito ou assado.

Dia de São José e dia de Zeppola

O interessante é tentar descobrir de onde surgiu a zeppola e pelo o que consegui apurar, surgiu ainda na Roma antiga polvilhado com açúcar e cereja azeda em conserva no seu topo. Talvez pela sazonalidade dos produtos é que acabou sendo feito apenas em um determinado momento do ano que coincidiu com o dia de San Giuseppe que, além de carpinteiro, dizem que era um homem que dominava a arte de fritar. Logo o doce foi adotado até pela igreja Católica Romana.

Existe um registro da primeira receita para a zeppola di San Giuseppe no livro de receitas de Ippolito Cavalcanti, datado em 1837 e seu nome era pastacresciute.

O doce deve ter migrado para todas as regiões próximas a Roma, mas foi em Napoli que, além de passar a ser chamado de zepolla, lá adicionaram o creme que hoje é o creme mais tradicional para se rechear o doce.

Outro fato curioso é que em Roma o doce ganhou outro nome, sendo: bignè di San Giuseppe.

Dia de São José e dia de Zeppola

Mas de onde vem o nome zeppola?

Uma das teorias que mais faz sentido é que o termo zeppa significa cunha de madeira usada para ajustar as alturas dos móveis. Como San Giuseppe era carpinteiro, fazia sentido o nome zeppola.

Mas o doce virou tradição, sendo feita por pasticcerie (confeitarias) de toda a Itália na semana de San Giuseppe. Então se você estiver na Itália nesta época, aproveite o doce sazonal! Dependendo da região, encontrará variações tanto no preparo quanto nos recheios e decorações, sendo alguns fritos em azeites, outros em banha de porco, alguns vitrificados com açúcar, outras cobertas por açúcar de confeiteiro e por aí vai.

O doce é vendido por unidade e dependendo da pasticceria possui tamanhos diferentes, o que já deveria bastar, porque além de levar muita manteiga na massa, a zeppola é frita. Então considere as calorias deste doce tanto no açúcar e carboidratos quanto nas gorduras.

Zeppola di San Giuseppe mais tradicional possui um formato cilíndrico, com um furo no meio e coberto por creme, um pouco de licor de amarena e uma fruta em conserva no topo. Já a versão romana bignè di San Giuseppe ´é redonda e abundantemente recheado de creme, praticamente um choux cream, porém, frito.

Agora para quem mora em São Paulo tem a sorte de provar o doce em alguns lugares, já que a cidade abriga a maior colônia de imigrantes e descendentes de italianos fora da Itália, são aproximadamente 13 milhões de pessoas. E com eles as tradições atravessaram o oceano e a boa comida também!

Dia de São José e dia de Zeppola

Hoje existem estes lugares para você provar o doce em São Paulo:

Basilicata é uma padaria italiana bem no estilo que se encontra na Itália e funciona desde 1914 e fundada pelo italiano da região da Basilicata, Felipe Ponzio. A casa faz o doce o ano todo e fica bem no coração do bairro mais italiano de São Paulo, o Bixiga e possui como carro chefe o pão italiano Basilicata, experimente. A dica é ir entre quinta e final de semana que são os dias que os doces são feitos. Endereço: R. Treze de Maio, 596

Zeppole da DiCunto

Di Cunto também é outra padaria tradicional conhecida por oferecer iguarias italianas, fundada em 1896 pelo italiano da região da Campania, Donato Di Cunto. Vende a zeppola o ano todo nos três endereços que possui, porém vale a pena conhecer a matriz em outro bairro bem italiano, a Mooca.

No dia de San Giuseppe a clientela está em peso para prevalescer a tradição. Apesar de mais cara que as outras que provei (BRL 17/un ou USD 3.3), julgo a mais gostosa de todas, doçura super equilibrada, uma delícia!. Acho o amendoim triturado jogado em cima desnecessário, não tem gosto de fritura suja, tem bastante recheio apesar de não aparentar e com certeza te levará a voltar à casa em busca de mais!

Endereço: Rua Borges de Figueiredo nº 61/103.

Zepolle assados da I Pastaio

Zepolle assados da I Pastaio

Il Pastaio é uma casa especializada em massas italianas há mais de 50 anos e foi fundada pelo casal de imigrantes italianos, Elide e Amedeo Di Perna que chegaram por aqui na década de 1940. Possui neste momento também um braço no café da Casa das Rosas e é delicioso (prove os aranccini). A casa oferece a zeppola o ano todo na versão assada, porém a versão frita somente no dia de São José, 19 de março (preço em 2022: R$12).

Experimentei a versão assada e gostei porque o nível de açúcar estava correto, porém fiquei na dúvida se o creme do recheio deveria ser levemente azedo ou se estava levemente estragado. O valor é USD 2.50 a unidade e tem cerca de 11 cm de largura e seu furo central 4cm.
Endereço: Alameda Santos, 44

Zeppole da Big Bread

Zeppole da Big Bread

 

Big Bread é uma padaria moderna e aparentemente sem histórico de fundação por imigrantes italianos e que fica no bairro do Ipiranga e foi a primeira zeppola que provei na vida. Muito leve e doce na medida certa para quem detesta doces muito doces, pequeno mas pesado e possui amendoim torrado salpicado, além de uma calda de açúcar. Vendida em torno e no dia de São José, ou seja, a partir do dia 18 de Março, a padaria fica na frente da Paróquia São José do Ipiranga, que festeja o dia do santo. O preço é quase R$7 a unidade e eles vendem embalagens de 6 por R$ 35. Endereço: Rua Agostinho Gomes, 1880.

Casa Santa Luzia é um mercado e mesmo que sem a história italiana por trás, prepara o doce na semana de São José. Vale a pena experimentar. Endereço: Alameda Lorena, 1471.

Dia de São Jos

é e dia de Zeppola

Fontes que me ajudaram a elaborar esta matéria: site da revistamade e o livro Food Culture in Italy de Fabio Parasecoli.

Dia de São José e dia de Zeppola

Variações pelo mundo

Choux Cream com morango de confeitaria asiática
Choux Cream com morango de confeitaria asiática

Le Paris Brest que provei em Etretat

Choux Cream com morango de confeitaria asiáticaComo já dito, a zepolla se tornou Pâte a Choux na França porque o principal chef da corte de Caterina di Medici, o italiano chef Pantarelli, fez uma variação da zepolla criando um gateau pâte à pantanelli ou pâte à chaud  e seu sucessor, outro italiano, o chef Popelini, modificou aquela receita e também o seu nome como pâte à popelin. Somente no século XIX que o confeiteiro chef Jean Avice fez nascer a pâte à choux como referência à semelhança de repolhos no formato que ficam após assados.

Na França há ainda o Le Paris-Brest (caracterizado pelo furo no meio) que é outro nome para pâte à choux, tem o Éclair, que no Brasil chamamos de Bomba, e os Profiteroles, que por aqui chamamos de Carolinas. Tanto a Bomba quanto as Carolinas no Brasil você encontra principalmente em casas de doces especializados ou em algumas poucas padarias (geralmente são absurdamente doces e há fontes que indicam que as carolinas de doce de leite da padaria Dona Deôla em São Paulo são as melhores, mas possuo dúvidas).

Para terminar, não posso deixar de mencionar o Choux Cream e o Choux au craquelin, sendo que este último caiu no gosto das confeitarias asiáticas, principalmente no Japão e Coréia do Sul, sendo muito comum encontrá-los nos menus de sobremesas de restaurantes por lá.

Choux craquelin japonês
Choux Cream japonês

A base da éclair, pâte a choux, profiterole e choux cream / choux au craquelin é a mesma, o que muda são os formatos e recheios.

Na Grã Bretanha existe o Yorkshire Pudding, porém, ao invés de virar um doce, ele é encarado como um pão de acompanhamento para uma refeição tradicionalmente servida aos domingos que ainda leva rosbife, purê de batatas e vegetais cozidos.

éclair moi
Éclair do Éclair Moi

Nos Estados Unidos há uma versão do Yorkshire Pudding chamado de Popovers, que leva este nome porque ele literalmente estoura o topo quando está assando. Por lá os americanos usam o pãozinho de diversas formas, já que os servem como doces cobertos com frutas e chantilly ; ou manteiga e geleia no café da manhã ou, com chá da tarde e, por fim, acompanhando carnes no almoço e jantar.

Especificamente em New Orleans, Estados Unidos, justamente pela ocupação francesa, existe os beignets que, apesar de levar na massa fermento biológico e ser frito, é um derivado dos profiteroles clássicos franceses. Porém, mais se assemelha com o bolinho de chuva, não sendo oco e servido com açúcar de confeiteiro polvilhado por cima.

Carolinas da padaria Dona Deôla
Carolinas da padaria Dona Deôla

Curiosidade: As Carolinas são assim chamadas porque, diz a LENDA que havia um homem na Áustria chamado Karóly Ferencsarosz que vendia os profiteroles nas ruas de Viena no século XVII (não há registro em nenhum lugar sobre ele e esta história no Google, exceto em alguns punhados de sites de padarias paulistanas). Mas a história real deve ter sido de que um padeiro português um dia resolveu atrair mais clientes para sua padaria em Sâo Paulo, e fez as tradicionais profiteroles ou éclair, homenageando depois o nome do doce com o nome de uma das filhas, Carolina.

Em qual história você votaria? Na lenda ou na minha teoria?

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